Veigh desfilando para Artemisi, no São Paulo Fashion Week

No universo do trap, moda e música são expressões de identidade e resistência. Para muitos jovens, especialmente os da periferia, o trap vai além do som: ele afirma origens e narra realidades.

A moda no trap une o streetwear com peças de luxo e acessíveis, criando um visual que desafia padrões e celebra a autenticidade. Esse contraste expressa tanto o sucesso quanto as origens de muitos artistas.

Assim, cada peça, de tênis de marca até correntes, simboliza uma resposta ao elitismo cultural. Essa mistura também é um ato de resistência, mostrando que pessoas de raízes humildes podem, sim, ocupar espaços de destaque.

Esse estilo, provocativo e simbólico, reafirma a identidade de uma cena que só cresce. No Brasil, nomes como Veigh e o rapper cuiabano Gutinho trazem para suas performances uma conexão entre moda e música que fortalece a narrativa de cada som. Nos palcos e redes sociais, eles usam o visual para se conectar com o público, que vê nas roupas e letras um reflexo de suas histórias.

Em 2014, Raffa Moreira abriu o caminho para o trap brasileiro com uma estética diferente. Mesmo com críticas, ele seguiu em frente, provando como resistência e autenticidade fortalecem a afirmação cultural. Em 2018, o Recayd Mob lançou “Plaqtudum”, com 100 milhões de views no YouTube, e a cena seguiu evoluindo com artistas como Sidoka, que traz suas vivências e luta contra a exclusão.

A moda no trap não é só estética; é resistência cultural. Ela permite que artistas expressem suas vivências, transformando cada peça em uma declaração política e social. Assim, a moda constrói narrativas de empoderamento e inclusão, reafirmando a presença das vozes marginalizadas.

ENTREVISTA COM GUTINHO: MODA E TRAP NA PERSPECTIVA DE UM ARTISTA LOCAL

Fonte: Acervo pessoal

Desde 2019, Gutinho, jovem rapper cuiabano, vem conquistando seu espaço no cenário musical. Sua jornada começou nas batalhas de rima, onde ele descobriu sua habilidade e paixão pela música, aprimorando o flow e a expressão.

Em 2020, decidiu dar um passo adiante e entrou oficialmente na cena musical, mergulhando no universo do rap e do trap. Apaixonado pela diversidade sonora e pela qualidade do cenário atual. Contando com uma história de amor pelo som e pelo potencial da internet para expandir a arte cuiabana, Gutinho fala sobre como moda e música refletem sua identidade.

Você gosta de moda? Como consome isso no dia a dia?

“Sim, eu gosto muito de moda. No dia a dia, escolho minhas roupas pensando na estética que quero passar, principalmente quando vou para a faculdade ou tenho shows. Por exemplo, gosto de usar roupas coloridas, combinando blusas e eco bags de tons vibrantes, o que cria um visual bacana. Além disso, penso bastante nas combinações, experimentando diferentes estilos. Essa preocupação com o modo de vestir surgiu mais intensamente quando entrei para a arte, porque o artista é visto e, de certa forma, julgado por sua aparência.”

Como a moda te ajuda a complementar sua música?

“A moda é essencial para a minha música, porque consigo expressar o que quero passar através do que visto nos videoclipes. Em um clipe que gravei em Vila Bela, por exemplo, usei um short verde em um cenário natural e isso trouxe um ar de natureza para a filmagem. Já em um clipe mais “dark”, chamado Automotivo Blindado pelos Deuses do Universo, escolhi uma roupa preta, que casou perfeitamente com a ideia do vídeo. Para mim, o look não pode ser aleatório; ele precisa conversar com a atmosfera que quero criar.”

Você acha que a moda te ajuda a mostrar quem você é? Como?

Com certeza. A moda reflete quem somos, e isso vale não só para mim, mas para qualquer pessoa. Usar algo como um uniforme da faculdade, por exemplo, mostra meu lado estudante. Gosto também de um visual moderno, como bermudas e tênis, que expressam uma certa contemporaneidade.

O que não pode faltar em um look do Gutinho?

Não pode faltar uma calça personalizada que tenho, onde está escrito ‘Gutinho’ em alguns detalhes – eu a uso em eventos especiais. Também valorizo muito o conforto, então tênis e roupas que me deixem à vontade são essenciais, especialmente nos shows, onde estar confortável faz toda a diferença.

Fonte: acervo pessoal

Tem algum artista ou marca de moda que te inspira?

“Gosto muito do Jaden Smith, admiro o estilo alternativo dele. Tento incorporar alguns conceitos das roupas que ele monta, pois ele tem um jeito único de se vestir, que traz sempre um toque inovador. É um estilo que admiro e, às vezes, tento replicar.”

Assim, a moda e o trap seguem juntos como reflexos de identidade, construindo uma estética que carrega histórias e inspirações das ruas. Para artistas como Gutinho, que une moda e música em suas performances, cada peça de roupa é uma extensão da narrativa que deseja transmitir.

Com seu estilo próprio, ele exemplifica a mistura de características que marcam a cena trap. Ao lado de grandes nomes nacionais, Gutinho ajuda a mostrar que o trap vai além do som: ele é uma plataforma de transformação cultural e afirmação de identidade para jovens que encontram nesses elementos uma maneira de reafirmar suas histórias e ocupar novos espaços.

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