DJ, diretora criativa e fundadora da Festa GRADE, Malveck se tornou uma das figuras mais comentadas da nova cena underground justamente por não seguir o fluxo: prefere criar o próprio. Mesmo radicada em São Paulo, ela circula por outras regiões emergentes na cena eletrônica, como Cuiabá, onde tocou recentemente na OddlyBox.
Nesta conversa com nosso expediente, ela comenta o que distingue São Paulo de outras cenas, explica como monta sets que vão do pop ao techno – e até ao sertanejo, quando cabe – e compartilha sua leitura sobre o momento atual da música eletrônica no Brasil. Para além da estética, Malveck fala sobre comunidade, liberdade criativa e sobre como a GRADE acabou se tornando um ponto de encontro para quem busca uma noite menos previsível.

Qual é a diferença entre a cena noturna paulistana e a cuiabana?
A diferença é total. Uma cena noturna é formada por muitas camadas, sejam elas culturais, sociais, ideológicas […] Vai muito além daquilo que a gente enxerga. A noite paulistana é uma das maiores do mundo, então comparar qualquer outra cena com a de São Paulo é quase injusto, principalmente pela diversidade de opções que a cidade oferece. Quando falamos de música eletrônica, essa amplitude cresce ainda mais: há espaços mainstream, underground, públicos diferentes, estilos, tribos, infinitas formas de viver a noite.
Em Cuiabá, o que mais me chamou atenção foi justamente o público, o que eles ouvem, o que consomem, o jeito como vivem o dia e o fim de semana. É uma cena que está se descobrindo, experimentando o alternativo, e isso é muito bonito de ver. Em São Paulo tudo parece mais fácil, mas é mais concorrido. A cidade dá infinitas possibilidades, e isso às vezes atrapalha. O que eu mais amo na noite paulistana é justamente essa liberdade: você pode sair sozinho, ir a qualquer lugar, fazer qualquer coisa, e ainda assim vai se divertir, conhecer gente nova e se conectar.
O que é imprescindível pra você na hora de fazer a curadoria de um set?
Eu sou uma pessoa bem eclética [risos], diferente de todos que eu conheço. Decidir o que tocar às vezes é quase um desafio. Tenho meus estilos favoritos, claro, mas o meu “gosto musical” é muito variado. Vai do pop ao funk, do house ao techno, do trap ao sertanejo. A curadoria de um set não depende só de mim e do que eu quero tocar. Ela depende do lugar onde eu estou, do público, da energia que as pessoas esperam daquele momento. O meu papel é equilibrar isso com o meu senso estético e sonoro.
Gosto de transitar entre várias vertentes da música, sempre passando por house, techno, funk brasileiro e pitadas de pop, com principalmente, vocais. Eu amo música eletrônica, mas o que realmente me pega são as faixas que têm voz, que contam uma história. Eu gosto de brincar com remixes à capela, misturando falas com BPM acelerado. O que é imprescindível pra mim é essa liberdade criativa. O meu diferencial está em ter esse tato para misturar estilos e fazer com que essa grande salada de frutas fique saborosa.


O que nunca pode faltar na sua bolsa?
Vamos lá, meu top 3 essencial: um gloss ou hidratante labial, meu pendrive, claro, e um chiclete de melancia!
O que torna a GRADE tão efervescente e diferente?
A GRADE é o meu projeto, minha festa e coletivo que nasceu há mais de 10 anos e que hoje acontece em São Paulo. Quando ela chegou na cidade, há cerca de dois anos, a ideia era trazer algo que já existisse em outras festas, mas nunca tudo junto, no mesmo lugar. A GRADE nasceu pra unir e diversificar. Eu costumo descrever a GRADE como um clubber chique. Um espaço onde convivem a energia, a comunidade e a experiência underground, mas com uma curadoria diversa e senso estética que transmitem um bom gosto que deixa tudo mais intenso.
O que realmente torna a GRADE diferente é o senso de comunidade. Assim como outros coletivos importantes de São Paulo, nós construímos uma base muito sólida e fiel. A cada edição, vemos rostos conhecidos, que estão conosco desde sempre, e novos rostos chegando. O público entende o conceito e a energia da festa e se soma a ela criando um ambiente único e mega animado.
Quem são suas maiores referências hoje na cena eletrônica?
Eu tenho um problema em citar nomes específicos, porque minhas referências vêm de muitos lugares. Tudo me inspira de alguma forma. Mas o que mais me toca hoje são os artistas da cena queer e underground que estão levando seus sons para públicos diferentes e conquistando espaços que antes pareciam impossíveis.
Amigas como Clementaum, Alma Negrot, Etcetera, Candy, Avante, e artistas como Badsista e Caio Prince são pessoas que movem a cena e também se movem com ela. Claro que muitos inspiram e nos dão gás, mas os mais inspiradores são aqueles que nos levam junto e levantam nossa bandeira.

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