O crescimento da produção de reality shows sobre faxina e organização revela uma busca por bem-estar e controle em um mundo caótico, segundo especialistas; Confira também as recomendações da jornalista Sussuca Alencar.
Em um mundo onde a vida digital e a rotina de trabalho parecem fugir cada vez mais ao nosso controle, a televisão e as plataformas de streaming têm oferecido um alívio surpreendente: a organização. O nicho de reality shows de faxina e arrumação explodiu, transformando a desordem alheia em nosso mais novo prazer culposo.
De programas focados em minimalismo a jornadas intensas de limpeza, esse subgênero se multiplicou em canais lifestyle (como GNT e Discovery Home & Health) e plataformas de streaming (Netflix, HBO Max), provando que o fascínio vai muito além de uma simples dica de dobradura de roupas. Ele toca em um ponto nevrálgico da sociedade contemporânea: o desejo de ordem e o reflexo da nossa saúde mental em nossos lares.
Para mim, a paixão por esse nicho começou há anos, na era da TV a cabo, com programas como “Acumuladores” (Hoarding: Buried Alive), que escancaravam a complexidade da desordem extrema e abordando problemas mais complexos. A fascinação pelo caos alheio era tamanha que virou até brincadeira interna familiar: quando minha mãe ou alguém da família hesita em jogar algo fora, logo vem o alerta do meu pai, feito com carinho, mas com o peso da experiência televisiva: “Vai virar uma acumuladora?”
A ordem como novo símbolo de status

A popularidade desses reality shows é, para muitos, um sintoma. A desorganização da casa frequentemente é um reflexo de desafios emocionais profundos. Mas, para além da terapia, a organização se tornou uma performance social.
Questionamos o Cientista Social e professor Luciano Gomes dos Santos, do Centro Universitário Arnaldo Janssen (UniArnaldo-MG), sobre o que a ascensão de programas como ‘Menos é Demais’ revela sobre os valores atuais.
“A capacidade de ‘viver com menos’ e manter o ambiente sob controle passa a representar um novo capital cultural, acessível principalmente às classes médias urbanas. O minimalismo, portanto, é tanto uma estética quanto uma ideologia que comunica status: quem pode abrir mão do excesso é justamente quem tem condições materiais para escolher o que manter.“
— Professor Luciano Gomes dos Santos
O especialista aponta que a casa organizada se converte em um marcador de estilo de vida, uma forma contemporânea de virtude. “Ao transformar a casa em espetáculo, a mídia retira a organização de seu âmbito privado e a reposiciona como performance social. O lar, antes refúgio, torna-se vitrine.“
Fascínio pelo caos alheio
A atração por esses programas reside na poderosa experiência da observação vicária. Quem assiste sente um alívio psicológico indireto ao acompanhar a transformação radical do caos alheio, como se estivesse purificando suas próprias angústias à distância.
O conceito é simples: a casa não é apenas um espaço físico; é um espelho do nosso mundo interior. Quando perdemos o controle sobre um, o outro frequentemente desmorona. O reality de organização oferece uma narrativa de recomeço, onde a faxina externa simboliza o realinhamento interno.
O lar, nesse contexto, ressurge como um espaço de autocuidado. Mas por que a versão extrema desse caos, vista em programas como ‘Acumuladores’ e ‘Missão Faxina’, nos atrai tanto?
“A audiência demonstra o quanto o caos alheio nos atrai enquanto espetáculo. É uma forma de projeção e distanciamento simbólico: o espectador se reconhece parcialmente no descontrole do outro, mas também se sente superior ao observá-lo. Ver o ‘caos extremo’ do outro é, paradoxalmente, uma maneira de restaurar a sensação de ordem interna.“
— Professor Luciano Gomes dos Santos
O Professor Santos explica que esse consumo do desarranjo é um sintoma da incerteza global. “Ao assistir à transformação do ambiente caótico em um espaço limpo e funcional, o público experimenta uma narrativa de redenção e cura simbólica. Trata-se de uma espécie de ‘terapia social televisiva’.“
Historicamente, o trabalho de limpeza tem sido invisível e associado à esfera feminina. O boom desses reality shows o coloca no centro das atenções, conectando-o a narrativas de superação e bem-estar.
Isso levanta a questão sobre o impacto cultural de transformar uma atividade antes desprezada em um ritual midiático:
“Ao trazer a faxina e a organização para o centro do palco midiático, os reality shows promovem uma reconfiguração cultural importante: transformam uma tarefa banal e muitas vezes desprezada em símbolo de cuidado, autocura e reconstrução subjetiva.“
O Professor ressalta, no entanto, o risco dessa romantização: “Ao vincular limpeza à superação pessoal, esses programas reforçam a lógica neoliberal do ‘faça você mesmo’ também no campo do afeto, transferindo para o indivíduo a responsabilidade de ‘organizar-se emocionalmente’ por meio de tarefas domésticas.”
Perfeito! Entendido o tom: a lista de programas deve soar como uma recomendação entusiasta e pessoal da repórter, mantendo a credibilidade. O objetivo é quebrar a formalidade do release e injetar paixão.
Vou reescrever a introdução da lista e o parágrafo de cada programa, focando na empolgação e no porquê eles merecem destaque na sua lista de favoritos.
A estética da transformação é a nova comédia romântica

O sucesso desses programas se baseia também na estética da transformação. O dramático contraste entre o “antes” (a bagunça opressora) e o “depois” (o lar funcional e clean) é uma poderosa narrativa visual de superação. É um final feliz garantido em um ciclo de 40 minutos, que satisfaz nossa necessidade inerente de ver o caos ser domado e a beleza ser restaurada.
A tendência é clara: enquanto o mundo exterior se mostra cada vez mais incerto, a certeza da organização doméstica, mediada pela TV, tornou o nosso refúgio de entretenimento mais limpo e chega a substituir a comédia romântica.
O triunfo da ordem na programação do streaming
A produção nacional e internacional não apenas abraçou essa tendência, mas a refinou, e, para quem é fã confesso do gênero (como eu!), é impossível não destacar a qualidade e as abordagens que surgiram. Esses são os reality shows do gênero que estão no topo da minha lista de maratona, cada um com uma filosofia de arrumação que prova o poder da transformação:
Menos é Demais (HBO Max)
Com a recente estreia de sua sexta temporada, este programa brasileiro é um show de minimalismo e consumo consciente. Ele prova que a organização vai além da estética: é sobre ter o que realmente importa. Adoro como a produção instiga um debate sério sobre o consumo excessivo, propondo que a verdadeira transformação do lar começa pela mudança de mentalidade.

Missão Faxina com Ellen Milgrau (HBO Max)
Este é o reality que mais me toca, pois ele leva o lado terapêutico a sério! Acompanhar a Ellen Milgrau e sua equipe de ‘faxiners’ é ver a limpeza como uma ferramenta genuína para enfrentar desafios emocionais. O programa humaniza a bagunça de uma forma linda, provando que “colocar a casa em ordem não é só uma questão prática, mas também um valioso gesto de autocuidado”. O sucesso e o Prêmio TikTok Awards na categoria cleantok são a prova do impacto que a Ellen está causando!

Casa em ordem com Cas Aarssen (HBO Max):
com um formato inovador de orientação remota, a especialista Cas Aarssen ajuda famílias a transformar espaços caóticos em ambientes funcionais através de chamadas de vídeo. É inspirador ver como, mesmo à distância, o controle e o bem-estar podem ser reconquistados. O formato de coaching visual ressalta a importância de dicas personalizadas, mostrando que a organização sustentável exige dedicação, mas vale cada minuto!

Assistir à organização alheia também se tornou sua “válvula de escape” em um mundo caótico? Qual é o seu reality show de faxina favorito e o que ele te ensinou sobre o bem-estar e o desapego? Compartilhe sua experiência nos comentários!

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