Eu pensei que isso era bem estranho (tão muito estranho) \ Mas eu ignorei”. 

Apenas um verso da primeira faixa do álbum West End Girl, de Lily Allen, resume a narrativa contada por ela ao longo de 44 minutos. O quinto álbum de estúdio da cantora britânica, lançado na última sexta-feira (24), traz um compilado de emoções envoltas em vulnerabilidade, infidelidade e a contínua luta pela sobriedade.

Após sete anos sem nenhum lançamento, Lily Allen voltou à indústria musical de surpresa com um disco que expõe todo seu conturbado divórcio com David Harbour (Stranger Things). Os dois se casaram em 2020, em uma cerimônia em uma capela em Las Vegas, com o sósia de Elvis Presley oficializando a união. 

Foto: Reprodução/Revista Quem

Em conversa com a Vogue britânica, Lily revelou que o álbum foi produzido em apenas 16 dias, no final de 2024, como uma maneira de lidar com o fim do relacionamento. Mais do que isso, a cantora conta como o fim de seu casamento afetou sua saúde mental e sua luta pela sobriedade. 

“Tenho problemas profundos com rejeição e abandono, com os quais tenho lutado durante a maior parte da minha vida adulta e provavelmente durante boa parte da minha infância também. E eu estava tendo uma reação extrema às coisas naquela época” conta Allen à revista Perfect. 

Foto: Reprodução/Revista Perfect

Já na faixa-título, Lily narra os primeiros momentos de felicidade do casal: a mudança para Nova York, a compra da casa da família e até mesmo o momento que ela conseguiu um papel em uma peça teatral. A partir daí, a cantora britânica começa a expor as desconfianças e manipulação do ex-marido com: “Foi quando seu jeito começou a mudar”.

Na música, Allen revela sua solidão em Londres, longe do marido. As ligações frias e o sentimento de que algo não estava certo, até que ela encerra com: “Ok, eu falo com você depois\ Eu te amo\ Tchau.” 

Arte da capa de “West End Girl”.
Foto: Jose Antonio Albornoz. Arte: Nieves Gonzalez

A segunda faixa, intitulada Ruminating, é a personificação em versos de alguém que luta contra os demônios da insegurança e infidelidade. “E não consigo tirar da cabeça a imagem dela nua\ Em cima de você e eu tô dissociado” versus “Você é meu, você é meu, você é meu”, traduzem a paranoia e o amor atrelados à existência da cantora.

E a história continua em Sleepwalking, Tennis, Relapse e Nonmonogramummy. Lily expõe, de forma crua e visceral, a experiência de viver um casamento não monogâmico “forçado”. É quase como se ela estivesse ali, bem à sua frente, num bar, revelando cada pequeno detalhe do que escondeu por anos — para você, uma amiga próxima que sempre suspeitou que havia uma sombra consumindo a essência de quem ela um dia foi.

Encarte de “West End Girl”.
Foto: Jose Antonio Albornoz. Arte: Nieves Gonzalez

Colocando um ponto final nesse fim inevitável, em Fruityloop, última música do disco, Lily Allen consegue entender que David Harbour é – e talvez sempre será – ‘Uma criança\ Procurando por sua mamãe”. É difícil escutar 14 faixas em 44 minutos sem tomar para si as dores de alguém que um dia foi fiel a um amor idealizado, e que lutou tanto por algo até se ruminar a ponto de não se reconhecer mais. Lily Allen pode até ter pausado a carreira musical por sete anos, mas seu retorno é digno de aplausos.

Sabe quando você acompanha uma série de livros e a heroína leva oito volumes para perceber que tudo o que viveu foi profundo, quase visceral? No fim, você se apega à dor dela e chora quando, enfim, ela encontra o próprio final feliz

Nesse novo álbum, é impossível não torcer por um final feliz também. Mesmo que Lily seja apenas aquela voz que te acompanha em playlists do Spotify, cada faixa faz valer cada segundo da sua atenção.

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