Recitar Hamlet na cultura pop é algo que só Taylor Swift conseguiria fazer com maestria. Fazer referência a Ofélia – uma mulher que enlouquece e morre afogada em um rio após uma possível desilusão amorosa – e, logo depois, em Wood, citar como o amor de seu noivo “foi a chave que abriu minhas coxas”, é algo simbólico para alguém que possui o poder lírico de transformar qualquer gênero musical em poesia.

Talvez a escolha do título do seu 12º álbum de estúdio, The Life of a Showgirl, tenha sido questionável. Afinal, o que há nessa era que remete a plumas, brilhos e ao ar teatral?

Foto: Instagram/@taylorswift

 Swift sempre conseguiu criar personalidades para seus lançamentos, cada era possui uma individualidade inquestionável. Mas, em Showgirl, a essência de suas criações foi deixada de lado.

A cantora, hoje com 35 anos, consolidou-se como uma das maiores referências da indústria musical, somando conquistas notáveis ao longo da carreira. Ela possui uma capacidade que poucos artistas têm:trilhar seu caminho através de diversos estilos musicais.

E não só isso, Swift é conhecida, principalmente, por suas letras melancólicas e por colocar o coração em cada pequeno verso de seus álbuns.

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Em Cardigan, uma das faixas de Folklore, cada trecho é pura beleza e simbologia para uma história que talvez só ela conheça de verdade. Mas o ato de ouvir, pela primeira vez, “Você desenhou estrelas ao redor das minhas cicatrizes/Mas agora estou sangrando” e compreender a semântica por trás desse verso, faz com que qualquer ser humano racional entenda sua relevância musical.

O que a consolidou como uma das maiores artistas da contemporaneidade também foi a forma como Taylor colocava seu coração, suas desilusões e sua esperança em seus relacionamentos retratados em suas faixas.

Agora, Swift está noiva do astro da NFL, Travis Kelce e continua conquistando o mundo. Celebrar sua felicidade fez sentido, depois de anos escrevendo sobre como amar demais pode fazer com que você se sinta como um cardigã velho, esquecido debaixo da cama de alguém, pronto para ser vestido novamente. 

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As Swifties estavam precisando se deleitar com uma fase mais serena nas narrativas de amor que a artista vem construindo há décadas. Nesse álbum, ela transita entre o humor e desejo pelo seu noivo com Wood, a fúria em CANCELLED, amadurecimento em Eldest Daughter e vulnerabilidade, com o peso das expectativas públicas em Elizabeth Taylor.

Taylor Swift é uma showgirl:sabe performar e ainda manter a pose enquanto tudo desaba nos bastidores de sua vida pública e amorosa. Ainda assim, esperava-se mais de um álbum intitulado The Life of a ShowGirl.

Foto: Instagram/@taylorswift

O brilho, as plumas e o ato teatral foram substituídos por outras nuances que, embora discretas, não deixam de ser alegorias sutis ao longo das faixas.

A obra não deixa de ser marcante, mas será que sustenta, a longo prazo, o termo “era” como 1989, Reputation, Folkore? Esses álbuns moldaram o peso de ser uma artista como Swift em uma indústria rodeada por êfemeros e a colocaram no pedestal do lirismo musical.

Mas, para Showgirl fica um grande ponto de interrogação. Afinal, narrativas fictícias a consolidaram, mas será que escrever sobre amor correspondido ainda a consagra da mesma forma? 

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