Manolo Blahnik caminhando por quarteirões e mais quarteirões de Nova York; Dolce&Gabanna esculpido em seu corpo; martini; sexo e um grupo de quatro amigos inseparáveis. Carrie Bradshaw fez história nos anos 90 e continua seu legado na memória daqueles que persistem em amar uma personagem imperfeita, mas sempre uma mulher real. Talvez…Menos em Just Like That.
Sex and the City se tornou sinônimo de feminilidade, independência e sobriedade no quesito do “o que uma mulher aos seus 30 anos deseja?”. Lançada em 1998 – baseada no romance “Ainda há sexo na cidade?”, de Candace Bushnell- a série deu nome ao que não dito pela imprensa, rompeu tabus para uma sociedade que respira estigmas e colocou em pauta o significado de sexo, amor e cidade.

A narrativa voltada para quatro mulheres na casa dos trinta parece até clichê no papel, mas quatro personalidades tão distintas e, ao mesmo tempo, tão identificáveis, fizeram da série um fenômeno até os dias de hoje. Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha moldaram gerações, mas o reboot falhou em torná-las influentes aos 50 anos.
O cancelamento do revival Just Like That foi anunciado há algumas semanas, encerrando o ciclo de Carrie e suas amigas – sem surpresa para os espectadores. O reboot já havia sido criticado desde a primeira temporada, sobretudo com a saída da “The Only and One” Samantha, vivida pela icônica Kim Catrall. Mais que isso, as críticas se baseavam na excessiva preocupação do dito politicamente correto.

Obviamente, economia, política, movimentos sociais e o aquecimento global mudaram o tecido social. As pessoas se adaptam de acordo com as eras e se transformam de acordo com suas vivências, mas não para a eterna Carrie Bradshaw.
Aos 55 anos, Carrie continua obcecada por moda, anda de salto alto em seu apartamento, teve dois grandes amores na sua vida (Team Big ou Team Aidan?), é escritora, mas não mais colunista de um jornal. Ainda assim, permanece imatura, não aceita opiniões de suas melhores amigas e faz de tudo por um homem que guarda ressentimentos por algo que aconteceu há mais de 20 anos.

Bradshaw perdeu seu -talvez- grande amor, Mr. Big, de forma súbita e dolorosa. Mas, desde a primeira temporada, os roteiristas insistem em colocá-la em encontros duvidosos, relacionamentos duvidosos e principalmente, um duvidoso Aidan – que sempre tentou moldá-la de acordo com suas idealizações. O pior? Ela sempre permitiu.

Carrie nunca se perdoou por tê-lo traído e, quando o reencontra, questiona se realmente o Big foi mesmo o amor de sua vida, apagando anos de história e sofrimento que sua personagem foi induzida por roteiristas que não sabiam mais o que fazer com os sentimentos de uma mulher da geração X.
E se Carrie Bradshaw, a protagonista da série, não possui liberdade e autonomia em 2025, Miranda e Charlotte, conseguiram estar em uma situação ainda pior. Miranda Hobbes, sempre vista como uma mulher empoderada, que desafia o patriarcado e se agarrava à sua independência nata, aos cinquenta se tornou uma mulher dependente emocionalmente de relacionamentos, com sua personalidade ruindo a cada encontro fracassado.
Charlotte York, pode até ter se casado com o homem perfeito, mas o fruto desse casamento veio em forma de duas filhas que não a respeitam e a tratam com indiferença, enquanto ela ainda respira a existência de uma família que sempre idealizou.

Bradshaw, Hobbes e York tiveram suas existências danificadas pelas mãos daqueles que possuem o controle de suas vidas nas telas. Samantha foi poupada quando a atriz que a interpreta decidiu nunca mais participar de nada relacionado à franquia. Talvez tenha sido uma escolha sábia, pois, em um mundo que a glorificava por ser livre e solteira, ela poderia ter sido arruinada por roteiristas incapazes de compreender a vivências e mudanças de uma mulher aos 50 anos.
Como disse Matthew McConaughey em sua participação especial na terceira temporada da série original:
“Minha única pergunta é: qual é o verdadeiro problema da Carrie?”
Essa pergunta ainda ecoa no século XXI.

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