Fala sobre força feminina em novela da Globo resgata um dilema contemporâneo sobre autonomia das mulheres e as relações
No remake de Vale Tudo, a icônica vilã Odete Roitman lança uma verdade incômoda para Raquel: o fato de ela ser uma self-made woman, uma mulher que se construiu sozinha, é o que afasta os homens. O termo “self-made woman”, popularizado pela revista americana Forbes, refere-se a uma mulher que construiu sua trajetória de sucesso por conta própria.
A fala, cruel e precisa, ecoa na vida real de inúmeras mulheres que, ao subirem no mundo dos negócios e da vida, se deparam com um dilema silencioso. Elas não precisam de um parceiro para se sustentar, mas descobrem que seu sucesso, ironicamente, pode se tornar um obstáculo para encontrar um amor que as entenda.

A cena é um clássico atemporal da teledramaturgia brasileira, mas sua essência se prova mais atual do que nunca.
Nós conversamos sobre esse assunto com a psicanalista, professora e CEO do Grupo Altis, Ana Lisboa. Ela, que lidera o Movimento Feminino Moderno, uma comunidade de transformação emocional para mulheres, destaca que a cena entre as personagens de Taís Araújo e Débora Bloch dá voz ao que muitas mulheres já percebem no cotidiano e reflete sobre a educação dos homens.

“Muitos homens ainda são educados para se sentirem superiores e, diante de uma mulher potente, se sentem ameaçados ou tentam rebaixá-la”, explicou. Essa dinâmica se reflete em dados concretos, com um número crescente de lares chefiados por mulheres no Brasil e projeções de mais de 45% das americanas em idade ativa solteiras e sem filhos até 2030.
O que a mulher que constrói a própria história realmente procura em um relacionamento? Ana Lisboa explica que muitas mulheres não querem ser salvas.
“Ela não quer salvar nem ser salva. Deseja dividir a vida com alguém que também tenha sonhos e capacidade de caminhar ao lado”.
No entanto, essa disposição para a parceria é rara, e muitas relatam frustrações com relacionamentos superficiais que não suportam a profundidade e o brilho delas. O problema, então, não é ter que escolher entre amor e sucesso, mas lidar com a resistência daqueles que veem a força feminina como uma ameaça.
No fundo, a verdadeira questão não é que a mulher seja forte, mas que ela não precisa de ninguém para ser quem é. E o mundo, como conclui a psicanalista, ainda não sabe o que fazer com essa nova realidade. “Esse desconforto, mais do que machismo, é medo de um futuro em que as mulheres não pedem permissão nem aprovação. Porque o sucesso feminino continua sendo admirado por poucas pessoas e tolerado por menos ainda.”
A fala de Odete, portanto, foi muito mais do que um golpe para a rival; foi um diagnóstico preciso de uma sociedade que ainda se adapta ao poder e à independência feminina.
“Ao dizer que Raquel é uma self-made woman e que isso afasta os homens, Odete Roitman talvez tentasse desestabilizar a rival, mas acabou revelando um fenômeno muito maior. O mundo ainda não sabe o que fazer com mulheres que chegaram lá por conta própria. E esse desconforto, mais do que machismo, é medo de um futuro em que as mulheres não pedem permissão nem aprovação. Porque o sucesso feminino continua sendo admirado por poucas pessoas e tolerado por menos ainda”, conclui Ana Lisboa.
E você, se identifica com essa jornada?

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