Simon Porte Jacquemus não apenas voltou ao calendário oficial da Paris Fashion Week, mas retornou ao Palácio de Versalhes após dois anos. A escolha da locação, mais especificamente a L’Orangerie, espaço sem adornos dentro da opulência do castelo, é simbólica. O desfile tensiona a distância entre o glamour da aristocracia e a realidade do camponês, da terra, do suor, da colheita.
A narrativa é pessoal. É sobre sua bisavó que colhia vegetais em trajes elegantes, sobre a mãe que usava uma saia improvisada pelo filho aos oito anos, sobre álbuns de família repletos de fotos de colheitas e sobre um menino do interior que agora veste celebridades. Mas também é estratégica. Jacquemus aprimora sua narrativa visual com técnicas de alta-costura, matérias-primas nobres e composições cada vez mais complexas.
A coleção traz referências divertidas ao cultivo, como alhos-porós feitos de couro, guirlandas de alho e joias em forma de frutas. Já os acessórios, como boinas, xales e espadrilles, dão profundidade ao devaneio rural. Um terceiro destaque é o novo modelo de bolsa, “Le Valerie”, batizada em homenagem à mãe do estilista.





Do ponto de vista semiótico, a coleção reorganiza os signos que fundaram a marca. A geometria está lá, incorporada ao volume dos vestidos e ao design das bolsas. A sensualidade, antes explícita em recortes provocantes, ganha um tom mais maduro. Há uma intencionalidade de elevar sua reputação sem trair sua origem popular, com um esforço racional de pertencer ao panteão das maisons históricas.
Simon sabe que chegou o momento de decidir o próximo passo: nutrir sua reputação “cool” com criações que viralizam ou agregar à marca um legado mais profundo. Ao final do desfile, permanece a provocação feita no início do texto: “Quem tem o direito de ocupar a realeza?”. A resposta, como o designer demonstra, é que o menino do campo também pode ser rei, desde que saiba contar sua história.









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