Sabrina Carpenter de princesinha da Disney para um dos maiores nomes da cultura pop, vencedora de dois Grammys, anunciou seu sétimo álbum, intitulado “Man´s Best Friend”, com lançamento previsto para 29 de agosto de 2025. O single de estreia, nomeado “Manchild”, está dando o que falar, principalmente após o lançamento do video clipe e da capa do novo álbum. Não é nenhuma novidade que Sabrina usufrui de narrativas de teor sexual e ironiza as vivências masculinas, mas muitas vezes o tecido social ainda apresenta dificuldade em compreender a sátira por trás das histórias contadas por suas músicas.

Em “Manchild”, por exemplo, Sabrina encarna a personificação do sonho hétero masculino.  Vestida com shorts e blusinha branca, pede uma carona no meio da estrada. Nas cenas seguintes, posa como se fosse óleo sobre a tela para um artista, senta-se na beira de uma poltrona para que “homem” se sinta acolhido, sobe na garupa de uma moto enquanto se agarra ao seu protetor, tudo isso e muito mais, utilizando figurinos dignos de semântica para a narrativa pautada ao olhar masculino.  

Foto: divulgação/ @sabrinacarpenter

A letra da música se agarra à inutilidade do homem, às suas desculpas esfarrapadas, à sua insistência e à manipulação velada com “você acabou de dizer que terminou? Não sabia que começamos/ homem criança/ por que você correndo até mim/ nunca ouviu falar de autocuidado/metade do seu cérebro não está lá/ por que você sempre vem correndo, tirando todo o meu amor de mim”.

Muitos indivíduos – especialmente aqueles que acreditam, fielmente, que uma mulher como Sabrina ridiculariza as vivências femininas e suas lutas – ainda possuem dificuldade em compreender a dimensão interpretativa de suas alegorias. E a Vogue Australia, de forma sucinta, exemplificou isso em sua crítica.

“No video, ela toma banho com porcos, revira os olhos para a masculinidade performática e exagera todos os clichês femininos até que se tornem absurdos. Ela não está bajulando o olhar masculino – ela está zombando dele, e o faz com um aceno autoconsciente de que também o influenciou. Mas a sátira sempre traz riscos. Ela depende da compreensão do público de que é sátira. E, no momento, a alfabetização midiática online está perigosamente baixa” afirma o colunista Markiel Magsalin

A ideia de que Sabrina zomba do feminismo e retrocede as lutas femininas já vem sendo dito a algum tempo. O mundo ainda não se sente confortável com mulheres que abraçam sua sexualidade e falam sobre sexo, principalmente quando é feito de maneira inteligente, provocadora e, acima de tudo, sem a menor intenção de agradar à massa masculina, e sim de ironizá-la.

Em seus shows, Carpenter performa posições sexuais e utiliza de figurinos que remetem à estética das lingeries, enquanto canta: “O pacote completo, meu bem, gosto do seu corpo sarado/ deus abençoe a genética do seu pai”.  Por que Chris Brown pode cantar, sem ser questionado, sobre como quer ser agrado na cama, mas Sabrina ainda é julgada por declarar que as mulheres também têm direito ao prazer?  

Em seu último ato – que dita a fragilidade dos discursos que tentam inviabilizar as intenções femininas-, Sabrina lança a capa do seu novo álbum em que está ajoelhada em frente a um homem, usando salto alto e minivestido, enquanto ele puxa seu cabelo. O nome do disco sendo “O melhor amigo do homem”, logo após lançar um single que dita como seus ex-namorados são inúteis, não possuem pensamentos próprios e são emocionalmente vazios, reflete sobre como as mulheres são vistas como objetos sexuais, ao mesmo tempo que, zomba da psique masculina perante a sexualidade feminina e os cliches vinculados à sua existência, como a guerra de travesseiros e lavar carros com biquinis.

Foto: Reprodução/X @sabrinacarpenter

O mundo ainda tenta ditar como uma mulher deve ser portar, como ela não deve incomodar a percepção masculina e sim apenas agradá-la. Abraçar a sexualidade feminina significa retrocesso, degradação e negação de sua submissão ditada historicamente pelo patriarcado que ainda tentar colocá-las em uma redoma.

Sabrina, no entanto, mergulha na persona de uma mulher sensual e bem resolvida e, por si só, controla a percepção midiática em frente à sua imagem, atingindo diretamente aqueles que tanto se incomodam com mulheres que têm as rédeas de suas próprias narrativas. Ela zomba dos padrões impossíveis e, sem nenhum pudor, nada com os porcos, enquanto os homens se afogam na própria incapacidade de interpretar a complexidade de suas músicas.

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