Antes de se tornar uma das mais consagradas designers da moda britânica, Vivienne Westwood era barulho, incômodo e rebeldia. Lembrada como símbolo punk que por diversas vezes desafiou o status quo, a britânica que já satirizou até mesmo a ignóbil Dama de Ferro, nessa semana, completaria 84 anos.

Vivienne Isabel Swire, nascida em 8 de abril de 1941, no interior da Inglaterra, tem uma origem clássica do proletariado britânico da primeira metade do século XX.
Filha de um operário e uma tecelã, chegou a se formar como professora primária, mas deu uma guinada radical nos anos 70, em Londres, ao fundar com Malcolm McLaren a lendária loja SEX — ponto de partida na sua história com a moda.
Muito diferente do que, na época (e até hoje), se acreditava ser o papel de uma mulher, Vivienne já se mostrava transgressora ao provar que a vida não acaba depois dos 30. Fundou, aos 33, a marca mais icônica da era punk.

Nesse momento marcado pela recessão econômica, discursos conservadores e um cenário político acirrado definiam a virada dos anos 70 para os 80 — o Reino Unido era um organismo em gangrena.
Fábricas fechavam suas portas, sindicatos em desmonte e o desemprego se alastravam como uma praga — não por acaso, mais do que sintomático de um período sombrio na humanidade, tudo isso era um projeto neoliberal coordenado por Margaret Thatcher.
Diante do caos, as criações de Vivienne eram manifesto contra uma classe dominante, viravam recurso imagético de um movimento que crescia forte nas ruas contra toda essa frivolidade: o punk.

Em sua estética, tudo era político. Foi ressignificando signos de dominação masculina, como o espartilho, que ela confrontava uma cosmovisão conservadora que permeava a Europa Ocidental.
E mesmo com o passar de cinco décadas de carreira, seu espírito rebelde nunca foi domesticado. Subiu em tanques de guerra para protestar contra o governo britânico, protestou contra o uso de armas nucleares, usou o tapete vermelho para denunciar a crise climática e nunca poupou a indústria da moda de suas críticas.

Um de seus momentos mais icônicos foi em 1992, quando, ao ser condecorada pelo Império Britânico, a incontrolável Vivienne girou sua saia — sem calcinha — do lado de fora do Palácio de Buckingham, deixando claro que nenhum protocolo fazia parte de seu estirpe.

Em tempos de aceleração desenfreada, ela pregava o oposto: “Buy less. Choose well. Make it last.” (Compre menos. Escolha bem. Faça durar.) Um mantra simples, mas radical num mercado baseado no consumo fútil.
Com sua partida em 2022, o mundo deixava para trás um dos últimos suspiros de revolução e insubordinação na moda. Parte de uma geração de rebeldes, Vivienne deixa um legado imortal para toda uma próxima geração.

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