Suzanne Collins nos leva de volta a Panem em Amanhecer na Colheita, um livro que carrega toda a brutalidade, a dor e a crítica política já muito conhecidas pelos fãs de Jogos Vorazes, mas desta vez através dos olhos de Haymitch Abernathy.

O sarcástico e atormentado mentor de Katniss Everdeen finalmente tem sua história revelada, e o que encontramos é muito mais do que esperávamos: um jovem brilhante – e apaixonado –, mas também assombrado, tentando sobreviver a um dos jogos mais cruéis da história.

Começando na manhã da colheita da 50ª edição dos Jogos Vorazes – o segundo Massacre Quaternário –, o livro nos mostra a surpresa de Haymitch ao saber que fará parte deste espetáculo calculado.

Porém, o que ele não imagina é o quanto sua vida está prestes a se transformar em um inferno. Com regras ainda mais sádicas, essa edição exige que o dobro de tributos seja selecionado, tornando a arena um verdadeiro campo de batalha sem escapatória.

E, assim, os leitores se vêem fadados a absorver o sofrimento de ainda mais personagens – novos e já conhecidos –, descobrindo que uma faísca, se não for feita no tempo certo e no ambiente propício, não faz fogo.

Ao longo das páginas, vemos a inteligência afiada de Haymitch, sua luta desesperada pela sobrevivência e os sacrifícios que o mudam para sempre. Mas não é apenas a força ou a estratégia que garantem sua vitória – a propaganda, de forma positiva ou não, se torna sua maior aliada.

Foto: Pinterest/Reprodução

Neste livro, Collins reforça o poder da narrativa e da manipulação da opinião pública, um tema já explorado na trilogia original, mas que aqui ganha ainda mais peso. Haymitch compreende, com um certo empurrãozinho, que não basta ser forte: é preciso conquistar o público, criar uma história envolvente e garantir patrocinadores que possam mudar o curso de sua sobrevivência. Assim como Katniss futuramente, ele percebe que os Jogos não são apenas uma batalha física, mas também um espetáculo cuidadosamente encenado pela Capital. Mas, afinal, valerá a pena sair vitorioso?

A autora nos entrega uma narrativa dolorosamente realista e cheia de nuances, nos deliciando também com referências intermináveis de suas outras histórias. Ela deixa claro que seu protagonista não é apenas um sobrevivente, mas também é mais uma vítima de um sistema que destrói seus próprios filhos – usando de uma perversidade psicológica cruel demais para ser descrita.

Dessa forma, sua história nos mostra como o trauma pode consumir alguém, como a dor se transforma em cinismo, e como, apesar de tudo, ainda há espaço para um resquício de esperança. Com reviravoltas emocionantes e uma escrita imersiva, Amanhecer na Colheita é um livro que nos faz sentir cada golpe, cada perda e cada pequena vitória. Ele nos faz entender Haymitch de uma forma que nunca imaginamos e, no final, nos deixa com apenas uma certeza: ninguém sai ileso dos Jogos Vorazes.

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