(Fonte: arquivo pessoal)

Já imaginou como seria ter sua vida transformada em entretenimento para os outros, exposta para todo o país sem o seu consentimento? E, para piorar, pelo seu ex namorado abusivo? Não é preciso pensar muito para concluir que isso seria o pesadelo de qualquer um, ainda mais para um jovem negro gay que, além de enfrentar um relacionamento tóxico e sua difícil separação, ainda tem que assistir o ex se tornar uma subcelebridade nacional.

O pesadelo em questão é contado em “Querido Ex”, de Juan Jullian, um livro sobre um término complicado e histórias focadas nos altos e baixos dos relacionamentos. Com uma escrita sincera e cheia de emoção, ele nos leva por uma jornada de dor e superação, além de trazer a discussão sobre a fama instantânea e o impacto que a exposição midiática pode ter na nossa saúde mental – que tem sido cada vez mais comentada por influenciadores de diversos nichos.

Acredito, aliás, que não seja novidade que vivemos em uma era onde as redes sociais amplificam tudo: amores, desilusões, conquistas e fracassos. “Querido Ex” discute e ilustra como a mídia pode transformar experiências tão íntimas em um grande espetáculo.

Neste livro, o protagonista se vê preso em uma narrativa pública que não pediu para fazer parte, o que o obriga a encontrar formas de recuperar sua própria história e dignidade. E devo dizer que essa reflexão é essencial nos dias de hoje, quando a linha entre vida privada e vida pública está cada vez mais tênue. Afinal, até que ponto estamos dispostos a consumir a vida dos outros como entretenimento? E, o mais importante, quais são as consequências desses atos?

Desse modo, outro ponto altíssimo do livro é a forma como Jullian aborda a identidade LGBTQIA+ e o racismo estrutural. Ao longo da leitura, é visível como o personagem principal carrega não só as cicatrizes de um relacionamento intenso, mas também os desafios de ser quem é em uma sociedade que nem sempre acolhe.

Se um homem gay já incomoda muita gente, um homem gay negro incomoda muito mais. E ao visualizar a história do ponto de vista do protagonista – que passamos grande parte do livro sem nem saber o nome -, essa ideia se intensifica a cada página. 

Surpreendentemente, uma de suas melhores qualidades é que este livro não romantiza o sofrimento. Juan Jullian desenvolve grande parte da história de maneira envolvente, porém dolorosamente real. Nós acompanhamos a dor do personagem principal, suas tentativas de reconstrução e as dificuldades de seguir em frente quando o passado insiste em reaparecer.

É uma narrativa que fala diretamente com quem já viveu um término complicado e precisou se reinventar. Entre momentos de melancolia e pequenas vitórias pessoais, todo o arco do protagonista nos ensina muito sobre a importância do autocuidado e do amor próprio – até porque, relacionamentos abusivos muitas vezes são frutos da falta dele.

Em suma, “Querido Ex” é muito mais do que um drama romântico. Ele toca em temas sensíveis e delicados como saúde mental, autoestima e o impacto das redes sociais na forma como lidamos com nossas emoções. Se você está a procura de um livro que prende do início ao fim, faz refletir e ainda deixa aquele gostinho de quero mais, você acabou de encontrá-lo. De nada.

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