Há muito tempo, tenho querido me econtrar com Aranyn, artista minha conterrânea, mas de um universo completamente diferente. Assim como muita gente, a Aranyn teve o primeiro contato com a música por meio das festas de família e coral da escola no ensino fundamental, ainda criança. Participou de concurso de canto quando adolescente. Aos 18 anos, a artista deixou a cidade natal, Cuiabá, para estudar teatro em São Paulo. Já eu, pelo contrário, nunca fiz teatro nem me interessei por corais, me mantendo sempre na posição de telespectador, apreciando.

Em idas e vindas, assunto de uma segunda entrevista, a qual integra o caderno de cultura da próxima (5º) edição da TheAvantGarde, Aranyn se apaixonou pelo canto, pela música e pela composição. Após não muito tempo, lança “Aranyn Sessions”, já com duas temporadas disponíveis em seu canal no YouTube.

Foi nesse contexto em que a conheci. Em janeiro deste ano, por acaso (e certa intencionalidade) fui à uma programação na Casa Sumac, na qual Aranyn tinha show marcado e apresentou “Cores” pela primeira e segunda vez. Claro que eu não poderia ficar sem ‘tietar’ depois de tirar o pé do chão — várias vezes.

Depois de trocar figurinhas, estourar um champanhe e fechar a pista, mantemos contato, sempre mencionando a mutuamente quista entrevista. Vivendo ambos em uma ponte aérea Cuiabá — São Paulo, apenas no início deste mês (dezembro) conseguimos fugir do destino e degustar de muitas palavras e alguns beberes, em outra Casa que não a Sumac mas, por sua vez, Pró Coquetéis, encontro este que culminou no texto o qual você lê agora.

Em nossa conversa, Aranyn menciona que o visualizer de ‘Cores‘ nasceu de sua admiração pelo artista plástico também mato-grossense Adriano Figueiredo, e amadureceu lado-a-lado com a amizade criada.

 Eu escrevi cores já tem uns três anos, mas eu falo com o Adriano desde 2020, porque eu acompanho o trabalho dele. Sempre prestei muita atenção aqui, né, nas ruas de Cuiabá, porque eu sei onde tem alguns pontos que tem artes dele, e comecei a ver cada vez mais.

Adriano é conhecido pela originalidade de seus traços, facilmente encontrados espalhados pela capital do estado, e também no interior, em Nobres. Com exposições não apenas em galerias e museus pelo Centro-Oeste mas também por todo o país, o artista ganha força no cenário artístico, com ateliê e galeria própria na região metropolitana. Suas obras trazem cores e elementos representativos da cultura estadual, como o caju e o tucano, em tons vibrantes que recordam tradições como as ‘Carvalhadas’ e as marcantes estampas em chita.

Aranyn conta que havia entrado em contato com Adriano antes mesmo de pensar na identidade visual do Single lançado ontem, mas que apesar do projeto inicial não ter sido exitoso, ela não desistiu da colaboração.

E aí, eu entrei em contato pra fazer um projeto com ele, que não rolou a princípio, que era um edital. Só que desse contato eu falei, pô, eu não vou desistir, porque a gente teve um feat legal, e então a gente conversou.

De maneira geral, as obras do cuiabano são coloridas e repletas de significado cultural e emocional do artista. Para a cantora, a oportunidade era perfeita.

Não apenas isso, mas, assim como em diversos outros projetos, Aranyn usa a produção artística e os artistas de sua terra natal para fortalecer uma ponte cultural entre sua cidade atual e suas origens.

Faz todo o sentido quando você presta atenção na letra da música, que fala sobre os sermos coloridos, e pega as referências de cores que o Adriano usa nas artes dele, que são muito coloridas também, sabe? Então foi uma coisa que a gente conversou ‘Pô, vamos juntar essas forças e fazer um trabalho’ porque faz muito sentido pros dois… E nisso entrou outras parcerias, que foi a Maria Reis, que é a diretora fotográfica e a Casa das Molduras.

Aranyn, com pinturas corporais de Figueiredo e moldura da Casa das Molduras. Imagem: Frame do visualizer disponível no Youtube.

Maria Reis, por exemplo, é a diretora de fotografia do visualizer, mas que já fotografou Aranyn anteriormente, em 2020 e em seu show de janeiro na Casa Sumac, além de dirigir projetos visuais de outros artistas da capital, como Pacha Ana e Stanya Cavalcante. Assim como no videoclipe de ‘Sexta-feira’, seu primeiro single, Aranyn esteve presente na direção do projeto, dessa vez ao lado de Maria. Já a contribuição da Casa das Molduras — a terceira casa citada nessa matéria — surge de uma parceria antiga com o diretor artístico do projeto, Adriano Figueiredo, ao ceder molduras utilizadas para a composição de cenas, o que trouxe ainda mais valor ao resultado final.

Então combinou super com a proposta, é quase um detalhe, mas é um detalhe que faz diferença, porque, na arte, é isso, né? Todo detalhe importa. É uma narrativa.

A cantora acredita que essa é uma oportunidade de divulgar, além da sua potência como cantora e compositora, o trabalho de Adriano e consequentemente a produção regional.

[…] tô muito feliz com esse projeto, eu acho que vai dar uma cara nova pra música na hora de chegar para o público também. Quem não conhece o Adriano, ou a nossa arte, vai ficar mais curioso e falar ‘Putz! Quem desenhou isso? De onde tá vindo essa referência?’ e isso acaba fazendo com que as pessoas busquem mais.

Eu sou um dos artistas daqui, então, mesmo eu estando em São Paulo, eu sempre penso maneiras de como criar essa ponte.

A arte de Adriano, então, foi essencial para tornar um projeto unitário a música e o visual, o que concede uma maior coesão artística ao trabalho, tanto em sentido literal, ao ilustrar as “cores” (a personalidade de Aranyn), quanto subjetivamente, ao trazer traços de sua autoria. Mas, em seu primeiro single, ‘Sexta-feira‘, que antecede o trabalho atual, Aranyn já havia utilizado a colorimetria na paisagem visual, com uma narrativa que também acompanha a letra.


À esquerda, frame de ‘Sexta-feira’, à direita, ‘Cores’. Arraste o circulo central e compare a colorimetria.

Sexta-feira foi a primeira experiência, né? Tanto é que começou em um tom mais romântico, são tons mais pasteis. Você tem que prestar atenção […] É uma menina que tá com o coração partido, ponto.

E aí eu vi também uma necessidade de falar um pouco mais do caminho do artista, e a letra de ‘Cores’ tem mais a ver com isso. [A letra] fala sobre relacionamentos interpessoais mesmo, sabe, e de autoconhecimento.

Em uma interpretação própria da cantora, a música, lançada oficialmente em todas as plataformas digitais na data de ontem, dialoga com a personalidade multifacetada e complexa atribuída ao artista, e também sobre a receptividade das pessoas que nem sempre é positiva. ‘Cores’ é sobre transformações e aceitação pessoal, e sobre a coragem de ser autêntico, algo muito presente no trabalho de Aranyn. Em suas palavras, é como um grito do seu mantra pessoal inserido no verso “Eu sou tudo o que eu quero ser”.

Enfim, e aí isso percorre muito o caminho do artista, né? Quando você coloca a sua energia num trabalho, vem medo, insegurança, sei lá […] A gente pensa ‘Será que as pessoas não vão gostar?’, ou ‘Será que é isso mesmo?’… Tem momentos que você tem que falar ‘Não! É isso mesmo, é isso!’  e essa música veio pra mim nesse sentido. E quando eu mostrei pro Adriano, ele relacionou com outras coisas também.

Acho que ela [a música] tem esse poder. Tem um porquê de eu ter escrito ela, mas a partir do momento que ela vai pro mundo, cada um escuta do jeito que faz sentido para si, sabe?

O vídeo oficial está disponível no Youtube de Aranyn. A música, com uma interpretação inédita, diferente da gravação realizada na segunda temporada de Aranyn Sessions, acumulou mais de 100 pré-saves. A nova versão se destaca por ter uma sonoplastia mais sinestésica, similar às suas inspirações contemporâneas, como Marina Sena e Liniker.

A artista, que é também atriz, com participações em “Bom Dia Verônica” da Netflix e “Aruanas” da Globoplay, é certamente uma promessa da produção mato-grossense. Assim como tenho feito há muitos anos, me mantenho na posição de terceira pessoa, sem atuação artística mas, Aranyn, assisto confiante.

Uma resposta para “Aranyn fala sobre ‘Cores’, seu novo Single, em detalhes com exclusividade”.

  1. Muito bom texto, importante dilvugar os artista expoentes de nossa região, parabens ao autor!

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