Nós estamos obcecados por verde novamente, mesmo depois da cor ter sido saturada durante o “brat summer”. Dessa vez, esse verde vem acompanhado do rosa e as duas cores juntas contam a história que conhecemos como “Wicked” o conto das bruxas do Mágico de Oz, musical da Broadway que esse ano ganhou adaptação para cinema com Cynthia Erivo (interpretando Elphaba) e Ariana Grande (como Glinda).
O mundo mágico de Oz aparece pela primeira vez no livro “The Wonderful Wizard of Oz” (1900) de L. Frank Baum. E então o livro dá origem ao filme com o mesmo nome em 1939, que mais tarde servirá de base para o romance de 1995, “Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West” de Gregory Maguire que por sua vez, vira musical da Broadway.
Contexto dado. O filme de 1939 não foi o primeiro a abordar a trama, em 1910 um filme mudo foi gravado contando a história de Dorothy no mundo mágico de Oz, mas o que nenhuma outra adaptação teve a chance de expor foi Judy Garland.
Ela estrela o filme como Dorothy Gale, uma menina do interior dos Estados Unidos de mais ou menos 12 anos e durante as gravações, Judy que tinha 16 anos teve experiências terríveis on set;

Para começo de conversa, Garland teve uma mãe que costumava drogar a filha com estimulantes a fim de que ela aguentasse mais horas gravando e então a colocava para dormir com outras drogas para induzir o sono. Quando as gravações terminaram, ela já estava viciada em medicamentos barbitúricos e os abusos de substância a perseguiram por toda sua -relativamente- curta vida.
Ela também foi molestada não só pelos poderosos da produção, mas inclusive por atores. Seu ex marido Sid Luft chegou a revelar que os atores que interpretavam os munchkins no filme foram responsáveis por uma série de assédios, esses atores eram homens na casa dos 40 anos.
Como muitos atores e atrizes mirins de Hollywood, ela convivia majoritariamente com adultos, durante as gravações o contato dela com jovens de sua idade era restrito, assim como sua alimentação que era à base de cigarros, sopa de galinha e café. O corpo da atriz se desenvolveu durante as gravações e seus hábitos deviam seguir duras restrições para que ela não perdesse a aparência juvenil, uma vez que a personagem retrata uma garota de 12 anos.
O set rodava 6 dias por semana e Judy dormia poucas horas por noite, acordava com estimulantes, dormia com soníferos e isso se estendeu por anos dentro do seu contrato com a MGM, uma das principais em Hollywood. Isso tudo mexeu não só com o bem-estar físico da performer, mas também, é claro, com sua mente, gerando complexos em seu psicológico, muito afetado pelos padrões estéticos restritos que a obrigavam a seguir.
Louis B. Mayer, figurão do cinema e um dos fundadores da Metro-Golden-Meyer (aquela do leão que aparece no início dos filmes) foi apontado como uma presença forte no terror psicológico presente na trajetória de Judy Garland. Ela, que perdeu o pai cedo, viu sua figura amada ir embora, lhe restando uma mãe controladora e um estúdio de cinema que acabou por se tornar o local onde ela praticamente morava ao gravar dois filmes ao mesmo tempo, enquanto ensaiava um terceiro.
Se os sapatos de rubi fossem reais… teriam sido bastante úteis. A vida de uma das mais bonitas e tocantes vozes que conhecemos através do estrelato pelas mídias se resumiu a traumas profundos e vícios, uma história que continua presente mesmo tantos anos depois, no final das contas o tempo passa e as coisas mudam, mas não mudam o bastante, e o fato de um filme mágico, lindo, que conta uma história tocante e sensível, ter sido palco de uma experiência tão rude e traumática só serve para provar que nem tudo que reluz é ouro e até se fosse, não compensaria.

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