A dicotomia do envelhecimento na beleza feminina

A maioria das mulheres lembra exatamente o momento em que brincar de boneca já não fazia mais sentido. Quando assuntos como maquiagem, baladas e garotos foram se estabelecendo aos poucos na conversa com as amigas, e as brincadeiras de pega-pega já pareciam cansativas demais. A vontade de crescer e se tornar adulta foi aumentando ao desejar mais liberdade, enquanto a puberdade e questões internas nos desafiavam cada vez mais, nos fazendo achar que sabíamos de tudo, mesmo tão cedo.
Mas, e quando esse processo nem chega a acontecer? E se, ao invés de inventarmos histórias mirabolantes e criativas com nossas Barbies, estivéssemos mais preocupadas com nossa rotina de skincare e com quem nos segue no Instagram? Tudo isso antes dos 9 anos?
Com o contato cada vez mais precoce nas redes sociais, crianças entram no mundo de influencers, compartilhando suas rotinas matinais, cuidados com a pele e maquiagem, assemelhando-se a adultas. Desde cedo, a preocupação com a aparência e os cuidados contra o “envelhecimento” começam a privá-las de uma infância saudável.

Por outro lado, vemos cada vez mais mulheres adultas buscando recuperar a juventude perdida. Filmes como A Substância levantam questões sobre o uso de medicamentos, como o Ozempic, e procedimentos estéticos, mas muitos ignoram essas críticas, deixando-se levar pelo imediatismo das redes sociais e pela superficialidade da “pós-ironia”.

Essa busca incessante pela juventude é alimentada por uma indústria bilionária. Segundo dados da Grand View Research, o mercado global de produtos antienvelhecimento foi avaliado em US$ 62,6 bilhões em 2022 e continua crescendo. Produtos e procedimentos, como Botox, preenchimentos e cremes, são promovidos como essenciais para manter uma aparência jovem e “aceitável”.

A pressão social também reforça a ideia de que envelhecer é uma ameaça, especialmente para mulheres. Enfrentamos mais discriminação baseada na idade do que homens, o que pode gerar ansiedade, distorção da autoimagem e até transtornos psicológicos. Em uma sociedade onde filtros e edições transformam a idade em algo “flexível”, a comparação constante alimenta ainda mais a insatisfação com o envelhecimento natural.
O paradoxo é claro: enquanto crianças estão sendo “adultizadas” cada vez mais cedo, mulheres adultas buscam desesperadamente recuperar uma juventude idealizada, tornando-se cada vez mais explícita a data de validade feminina.

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