Em 2024, uma das pautas mais efervescentes é a questão climática. Devido aos colapsos ambientais, o aquecimento global e a evolução da indústria, isso se tornou pauta de discussão protagonista das últimas décadas, a fim de tentar reduzir os impactos.
Sendo assim, a moda não está alheia desse contexto. Esse setor é o segundo mais poluente do mundo, emitindo cerca de 8% dos gases estufa para a atmosfera, atrás apenas do setor petrolífero. Grande parte dessa poluição se dá por grandes empresas de fast fashion como Zara e Shein, recordistas em emissão de gás carbono (16 milhões de toneladas por ano).

Perante aos debates e cobrança de posicionamento dos nomes respeitados na moda, Armani Group, empresa da grife italiana Giorgio Armani, anunciou a sua intenção de reduzir em 50% as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) em suas produções até 2030 (em comparação a 2019). 

“O conceito de sustentabilidade, de fato, deve ser adotado a todos os níveis, produzindo menos e melhor, selecionando matérias-primas com baixo impacto ambiental, implementando constantemente processos inovadores, reduzindo o desperdício e a sucata, utilizando fontes de energia renováveis e, desta forma, reduzindo as emissões nocivas para o nosso planeta” – disse Giorgio Armani, estilista proprietário das linhas da grife.

Outono/Inverno 2023/24, Emporio Armani. Coleção inspirada nos oceanos e feita com materiais 100% recicláveis ou orgânicos. – Foto: Emporio Armani.

A Gucci também é um grupo de luxo que defende a pauta da moda sustentável, sendo uma adepta da produção utilizando carbono neutro e já reduziu suas emissões de gases estufa em mais de 47% desde 2017. 

Gucci Off The Grid, coleção feita totalmente com materiais orgânicos e recicláveis, com parceria de celebridades. – Foto: Gucci.

Grande parte dos créditos dessa adaptação dos grandes designers e grupos de luxo à sustentabilidade se deve a Stella McCartney, que muito antes da pegada ecofriendly surgir, já era abertamente ativista da causa, e em 2017 fez o ensaio fotográfico com as modelos em um aterro sanitário, querendo chamar atenção para o descarte inconsciente.

Outono 2017, Stella McCartney – Fotos: Stella McCartney.

“Nossos ambientes construídos artificialmente estão desconectados de outras formas de vida e do planeta, razão pela qual há tanto desperdício.” – disse a estilista inglesa. 

Porém, e para maioria das pessoas que não possuem acesso financeiro às marcas de luxo? Como praticar a moda sustentável e evitar o consumo de fast fashion?

Aqui vão algumas alternativas mais acessíveis:

Brechós e bazares

Foto: Reprodução

“A melhor roupa é aquela que já existe.” – frase famosa entre os defensores da moda circular. Os brechós são uma ótima alternativa para combater a produção em massa, uma vez que eles disponibilizam roupas antigas por preços bem mais acessíveis quando comparados a produtos novos.

Além disso, consumir em brechó instiga os pequenos negócios. Vale ressaltar também que esse tipo de comércio ajuda a resgatar designs antigos que muitas vezes acabam caindo no esquecimento. É uma forma de recuperar a memória artística das roupas. Alguns brechós possuem uma curadoria que limpa, lava, passa e restaura peças para elas estarem apropriadas para uso assim que saem pela porta. 

Do It Yourself (DIY)

Foto: Reprodução

Popularizada principalmente pelos punks na década de 1970, essa prática significa literalmente “Faça você mesmo” quando traduzida para o português. A ideologia se baseava em anticonsumo e na autoexpressão, ou seja, personalizar e/ou produzir vestimentas e acessórios que além de protestarem contra o consumismo, também representassem a personalidade e modo de pensar de quem vestisse de uma forma singular.

Essa ação vai desde confeccionar roupas em casa com uma máquina de costura e seus próprios tecidos até mesmo fazer pequenos acessórios em roupas já existentes. Os patches utilizados pelo movimento punk foram parte do protagonismo do DIY, pois além de serem fáceis de produzir em casa (apenas um retalho de tecido, tinta de tecido e uma cola, linha de costura ou alfinetes) também eram utilizados para expressar a anarquia desses grupos.

Colete jeans personalizado com patches DIY – Foto: Reddit r/CrossStitch

Vivienne Westwood, estilista britânica, foi uma grande adepta do Do It Yourself, e mesmo após sucesso como designer, nunca abandonou o seu lema “Buy Less” (Compre Menos) que já defendia desde sua época de punk em Londres.

Foto: Reprodução

Upcycling

Foto: Reprodução

Para quem gosta de costurar, o Upcycling pode ser uma alternativa. A prática se baseia em uma espécie de reciclagem: pegar uma roupa e/ou tecido que está danificado ou caiu em desuso e transformá-lo em uma nova peça, não necessariamente com a mesma função. Por exemplo, retalhos de calças antigas podem se tornar uma bolsa.

O tiktoker Cleyton Paulo, mais conhecido como Toncley (@toncley_) ganhou notoriedade nas redes sociais por postar suas produções de upcycling. O influencer já teve suas peças usadas pelo funkeiro MC Hariel, que também é engajado em pautas sociais e ambientais e encomendou um conjunto feito pelo costureiro.

Postagem a qual Toncley mostra o reaproveitamento de um tênis Nike danificado – Foto: @toncley_
Postagem agradecendo MC Hariel pela compra de sua produção – Foto: @toncley_

Evitar engajar em toda e qualquer microtendência

Foto: Reprodução.


Microtendências são aquelas que surgem rapidamente e vão embora na mesma velocidade. Esse comportamento aumentou muito mais com a era das redes sociais, principalmente Instagram e TikTok, que atingem majoritariamente o público jovem.

Vídeos relacionados à moda como “Get Ready With Me” (Arrume-se comigo) e derivados impulsionam, intencionalmente ou não, essa forma de tendência. Não há nada de errado em ver algo na internet e querer adaptar para o seu estilo, porém, é necessário se perguntar: eu de fato gostei dessa roupa/calçado/acessório e quero adotar como uma parte da minha estética pessoal, ou eu estou apenas sendo influenciado porque vi a quantidade de likes e compartilhamentos que uma pessoa recebeu por vestir isso? Ou ainda, estou querendo usar realmente ou só estou no efeito manada porque a maioria das pessoas está utilizando?

Algo frequente nas microtendências é ficarem nichadas em um certo público. Por exemplo, quero me diferenciar da tendência extremamente popularizada, e com isso, imito o comportamento de alguém considerado “estiloso” ou “diferente”. A partir disso, todas as pessoas que querem ser únicas em meio à multidão acabam aderindo às mesmas coisas, causando um efeito reverso e mais uma vez as padronizando, tornando as vestimentas esquecíveis e descartáveis.

Desapegos online

Foto: Reprodução.

Mercado Livre, enjoei, OLX, e afins são alguns aplicativos muito utilizados para vender as peças usadas ou semi-novas, o que se torna muito útil para quem não possui brechós próximos onde mora ou não tem tempo para garimpar em comércios físicos.
Recentemente, também há um grande crescimento dos brechós online via Instagram, que nada mais são do que “lojinhas” virtuais com anúncios de roupas de segunda mão, as quais você pode fazer a compra via DM, link, e outras formas 100% digitais, que serão enviadas por correio ou entregues em mãos. Para achar essas contas, basta utilizar seu explorar com palavras-chave como: garimpar, garimpo, brechó, desapego, bazar, dentre outras. Também há alguns comerciantes que personalizam as roupas que vendem, trazendo um ar artístico e diferenciado.

Para quem deseja um estudo mais aprofundado sobre moda sustentável, o livro Moda e Sustentabilidade: Design para mudança de Kate Fletcher e Lynda Grose é um bom ponto de partida para esse assunto.

Deixe um comentário