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Nos anos 80 e 90, o Japão teve uma relação bem complicada com a internet, cheia de medos e incertezas sobre suas consequências sociais e culturais. O avanço tecnológico acelerado trouxe à tona preocupações sobre como a tecnologia poderia desumanizar as interações, afetar a privacidade e transformar a vida cotidiana. Em uma sociedade que valorizava tanto a conexão humana, mas também se agarrava a tradições, havia um receio real de que a internet pudesse abalar os valores coletivos que mantinham a harmonia social. Essa batalha entre a modernidade e a preservação da cultura gerou um clima de ceticismo e apreensão, o que ficou evidente em várias obras da época.

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Um exemplo marcante dessa ambivalência é o anime “Serial Experiments Lain”, lançado em 1998. A série aborda temas como identidade, alienação e a realidade em um mundo cada vez mais conectado. 

A protagonista Lain, após receber um e-mail de uma garota morta, entra de cabeça na wired, um mundo virtual que o próprio anime descreve como “a soma das redes de comunicação humana, criada a partir dos serviços de telégrafo e telefone, e expandida com a internet e suas redes subsequentes.”

Na wired, Lain acaba confrontando múltiplas personalidades de si mesma, envolvidas em camadas obscuras da internet. Essa jornada conversa com o medo de perder o contato com a realidade e a desorientação que pode surgir quando nos deixamos levar pela tecnologia. O conceito de múltiplas identidades online é central na história, ressaltando a preocupação de que a internet poderia fragmentar nossa identidade e nos fazer questionar quem realmente somos.

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Além disso, “Serial Experiments Lain” toca em questões de privacidade e controle, com uma entidade misteriosa manipulando os eventos na Wired. Isso levanta dúvidas sobre quem realmente detém o poder na era digital e reflete diretamente no medo dos perigos ocasionados por essas conexões instantâneas.

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Outra obra que também explora esses medos é o filme “Kairo” (ou “Pulse”), de 2001. O filme apresenta as consequências sombrias da conexão com a internet, seguindo um grupo de jovens que se deparam com um website amaldiçoado, capaz de abrir um portal para o além.

Um dos temas centrais do filme é a alienação causada pela tecnologia, mostrada no afastamento social dos personagens à medida que se entregam ao mundo virtual. Essa desconexão simboliza o medo de que a internet, em vez de unir as pessoas, possa isolá-las e desumanizá-las.

“Kairo” também levanta questões sobre as influências negativas da internet, mostrando-a como um meio pelo qual “forças malignas” se infiltram na vida cotidiana.

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Poderia citar muitas outras obras nessa temática, não só japonesas, já que a insegurança com a internet foi um tópico global.

Obras como essas expõem a inquietação de uma sociedade diante das promessas de uma nova forma de comunicação, além de uma busca por entendimento em meio ao desconhecido. 

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