Quando falamos sobre diferentes frentes visuais, áreas de estudo como o cinema, a arquitetura, moda, artes visuais, etc., se encontram nos métodos, teorias e formas analíticas de estudar a percepção visual e compreensão do olhar. É um tema complexo que envolve termos que parecem simples, como o conceito de “ponto” e “linha” e conceitos curiosos, como a definição daquilo que é “orgânico” vs. o “inorgânico”.
Falando disso, é apenas natural que toquemos na linha do tempo dos movimentos artísticos que fundamentam e dividem o tempo com características visuais predominantes em determinadas épocas.
Estamos falando sobre mestres experimentais que se deram ao trabalho de criar, testar e buscar explicações para formas de enxergar o mundo e conceituar elementos “enxergáveis” que naturalmente, influenciam sensações e nos provocam a atenção.
Exemplo querido dessas experimentações com a forma são o trabalho e vida de Lygia Clark, artista BR natural de Minas Gerais que viveu entre 1920 e 1988, ajudando a difundir o movimento neoconcretista que defendia a interação com os objetos de arte, expandindo a experiência do público com o trabalho de um artista dedicado a produzir peças interativas que agem muitas vezes de forma intuitiva.
A artista, que teve objetos expostos recentemente na Pinacoteca em São Paulo, pensou seus objetos sensoriais indo da arte até a psiquiatria, uma de suas obras “Pedra e Ar” é bom exemplo do que ela usava com seus pacientes; um método desenvolvido para manter o paciente ciente do seu arredor ao segurar uma pedra em suas mãos durante a sessão.
“Pedra e Ar”, de 1966, consiste em um uma pedra sobre um saco plástico cheio de ar, a pedra tanto parece adentrar o saco de ar quanto pode parecer cair de sua superfície caso escape da forma plástica que parece uma almofada ou um balão. Essa forma é tão interativa, que pode ser reproduzida por qualquer um, o que ela nos oferece é um conceito, um experimento, o espectador que no caso passa a ser quase pesquisador também, é parte do estudo.
Um dos pacientes de Lygia foi Caetano Veloso, ele inclusive escreveu uma música pensando em suas práticas terapêuticas; se chama “If you hold a stone” (Se você segurar uma pedra). Ela é meio engraçada, as palavras se repetem intermitentemente e tem 6 minutos de duração.
Esse caminho, de suas práticas artísticas até as práticas psiquiátricas, é curioso. Lygia lidava com as formas e sua plasticidade até praticamente extinguir as possibilidades de interpretar uma obra. Pense que em seu período de vida e estudo está incluso o regime ditatorial do Brasil. Nessa mesma linha do tempo, ela estava propondo diálogos em volta de formas geométricas que viram bicho, grupos de pessoas envoltas em redes de elásticos e o ato de segurar uma pedra nas mãos.
Esse exemplo de trabalho e pesquisa é maravilhoso, a história parece tão óbvia… digo, como não pensar em incluir a experiência sensorial e prática do espectador na experiência do artista. Não confundir essa experiência com arteterapia.
As práticas e a pesquisa de Lygia Clark são usadas até hoje, presenciar elas em museu é ver um grupo de pessoas que pode livremente explorar com as mãos, para quem leva bronca por querer “ver com as mãos” é um prato cheio. Seu trabalho é tão atual, e parece que sempre vai ser.


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