O complexo de vira-lata foi descrito em 1958 pelo jornalista brasileiro Nelson Rodrigues, definido como: “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.”

A ideia de que o Brasil, no fundo, é uma coisa jogada as traças, meio fuleira ou como os cachorros são chamados: “vira-lata”, sem pedigree.

Tudo teria se iniciado com a derrota da seleção brasileira na Copa de 1950, onde a expressão ganhou o mundo e até hoje se perdura nas falas e expressões de muitos brasileiros, como exemplo:

Esse país…”

Neste país…”

Só mesmo nesse país…”

Copa de 1950.

Por que resolvi escrever sobre o complexo de vira-lata? Para mim, como brasileira, é revoltante assistir o deslumbramento de muitos cidadãos brasileiros com outros países, ouvir diariamente que o nosso país não acarreta em nada, me enfurece e me preocupa saber que normalizamos expressões e comentários hediondos sobre a nossa própria nação e cultura.

Sinto que vivemos uma dependência de aprovação exterior para qualquer coisa, uma necessidade de agradar. Um dos jeitos mais significativos aparentemente é falar mal de nós mesmos. Isso reflete sobre a nossa inteligência e como estamos usufruindo dela.

Um estudante britânico comentou sobre sua experiência no Brasil ao analisar esse complexo de perto:

“Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente, notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi “de Londres”, veio um grande sorriso de aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: ‘sou deste país sofrido aqui.”

E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais ‘sofrido’ deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.”

“…se os brasileiros tivessem um pouco mais de orgulho da própria identidade, este país ficaria ainda mais incrível.”

E é exatamente isso. Temos uma cultura tão bonita e diversificada, somos um povo que acolhe, uma nação alegre. Mas não conseguimos valorizar a nossa música, nosso teatro, nosso dialeto, nossa ancestralidade, o nosso.

Que país não tem problemas? O Brasil , ao contrário do que muitos pensam, tem uma reputação invejável no exterior, mas nós brasileiros, as vezes, só enxergamos o lado negativo, externalizando uma frustração e ódio da nossa própria cultura.

Releitura da obra “Operários” de Tarsila de Amaral com artistas brasileiros.

Dostoievski em um de seus contos entende que o amor a sua pátria não está em choque com os vícios da alma russa, ele ama o povo russo mesmo naquilo que ele tem de mais mesquinho, porque sua nação é gigantesca, suas injustiças e problemas fazem parte também daquilo que a gerou no que é hoje.

O Brasil tem uma bagagem, marcada por muitas pessoas, histórias, lutas, vitórias e dores. E mesmo com toda essa bagagem pesada e indiscutível possuímos uma cultura linda, porque foi através dessa bagagem que ela se transformou. E precisamos abraça-lá ao invés de a criticar.

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