Seis anos se passaram desde o último desfile da Victoria’s Secret. Um período marcado por intensas críticas e debates sobre a falta de diversidade e a perpetuação de padrões de beleza irreais. A marca, então, anunciou o seu retorno com a promessa de uma nova era, mais inclusiva e representativa. No entanto, na passarela foi um show de que pouco avançou em relação ao passado.

Fonte: Forbes

A marca, que já foi sinônimo de glamour e perfeição, viu seu império ruir diante de uma nova geração de consumidoras que buscavam representação e autenticidade.

A credibilidade quanto as mudanças sofreu um duro golpe com as declarações transfóbicas e excludentes de Ed RazekNão acho que teremos esse tipo de modelo, porque esse show é uma fantasia. São 42 minutos de entretenimento.” Razek revelava a visão limitada da marca sobre beleza e diversidade. A repercussão negativa foi imediata, e a tentativa posterior da empresa de se desassociar dos comentários do executivo não foi suficiente para reverter a indignação do público. 

Fonte: Victoria’s Secret X(ex-twitter)

Tradução:


“Meu comentário sobre a inclusão de modelos transgênero no Victoria’s Secret Fashion Show pareceu insensível. Peço desculpas. Para ser claro, nós definitivamente escalaríamos uma modelo transgênero para o show. Nós tivemos modelos transgêneros indo para os testes… E como muitos outros, eles não conseguiram… Mas nunca foi sobre gênero. Eu admiro e respeito a jornada deles para abraçar quem eles realmente são.” Ed Razek, Diretor de Marketing, L Brands
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A concorrência com marcas como a Savage X Fenty de Rihanna, que celebra a diversidade de corpos e etnias, acelerou essa queda. Em 2023, no seu site, publicou uma série de novos valores para a marca, como “Deixamos de promover uma visão excludente do que é sexy e passamos a celebrar todas as mulheres em todas as fases de suas vidas”.

O desfile de 2024, no entanto, não conseguiu fugir das antigas raízes. Com a promessa de inclusão, ficou restrita a um pequeno grupo de modelos plus size e de diversas etnias e um ponto positivo para modelos mais velhas.

A maioria das modelos, seguiu o padrão de beleza eurocêntrico e magro, demonstrando que a marca continua presa aos mesmos moldes de antes. A sensação é de que a diversidade foi utilizada como um adereço, uma tentativa superficial de agradar ao público sem realmente transformar a marca.

Fonte: People

A estética do desfile também foi um ponto de crítica. Voltar ao passado, com referências aos anos 2000, foi evidente. O show, que já foi exuberante e grandioso, parecia mais simples e até mesmo um pouco amador. A escolha de usar asas apenas em algumas modelos, enquanto as veteranas desfilavam com roupas mais cobertas como Kate Moss e Ashley Graham, reforça a ideia de que a marca ainda tem dificuldades em abraçar a diversidade de forma completa.

Fonte: Harpers Bazaar
Da esquerda para a direita: Ashley Graham, Jill Kortleve e Devyn Garcia
Fonte: Harpers Bazaar
Da esquerda para a direita: Carla Bruni, Paloma Elsesser e Kate Moss

É preciso questionar se ela está realmente comprometida com a mudança. A pressão das redes sociais e dos consumidores foi fundamental para que a marca se movimentasse, mas as ações até agora parecem mais uma tentativa de salvar a própria imagem do que uma verdadeira transformação.

A verdade é que a Victoria’s Secret nunca foi sobre empoderamento feminino. Sempre foi sobre a venda de um ideal de beleza inalcançável para a maioria das mulheres. A marca tentou se reinventar, mas não conseguiu se desvencilhar de suas raízes tóxicas.

Fonte: Harpers Bazaar
Da esquerda para a direita: Valentina Sampaio (primeira modelo trans a desfilar pela VS), Adriana Lima e Anok Yai

É hora de deixar para trás a nostalgia e reconhecer que a marca de lingerie é um capítulo fechado na história da moda. A nova geração de consumidoras buscam marcas que as representem de verdade, que celebrem a diversidade em todas as suas formas. A Victoria’s Secret, infelizmente, não parece fazer parte desse futuro.

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