A dança das cadeiras entre diretores criativos é um fenômeno recorrente há alguns anos nas grandes marcas. Quem essa troca beneficia é uma questão instigante que vem repercutindo na internet.
E o público vem se questionando por que esses espaços insistem em manter o mesmo padrão, composto, principalmente, por homens brancos europeus. A impressão é de que as lideranças se revezam em torno de um ciclo sem diversidade.
Por exemplo, Alessandro Michele saiu da Gucci e foi para a Valentino. Sabato de Sarno, que começou sua carreira na Prada, passou pela Dolce & Gabbana e já foi designer sênior na Valentino. Hoje, é ele quem assume o cargo de diretor criativo da Gucci, substituindo Michele. Mais que uma dança das cadeiras, esse movimento se assemelha a um complexo jogo de xadrez.


As decisões são feitas pelas canetadas de homens brancos poderosos, à frente dos maiores conglomerados de moda, como Kering e LVMH. Seguindo esta mesma analogia do jogo de xadrez, eles não são as peças, mas sim os jogadores. Responsáveis pelas mudanças das maiores marcas de moda de luxo (Kering e LVMH), movimentando o mercado mundial.


Bernard Jean Étienne Arnault, presidente e CEO do grupo LVMH; e François-Henri Pinaul, CEO do grupo Karing. Fonte: https://www.infomoney.com.br/perfil/bernard-arnault.
Mesmo que o consumidor final seja, em sua maioria, o público feminino, muitas marcas ainda são comandadas por homens. A falta de diversidade na equipe funciona como um efeito dominó, refletindo na escolha dos castings de modelos, majoritariamente brancas, sem diversidade racial, de gênero, idade e outros recortes.
Mas nem tudo é ruim, mudanças também vêm acontecendo. Nadando contra a maré. Em 2020, a #SPFW teve uma inédita política de paridade racial no evento, exigindo que 50% dos modelos fossem negros, afrodescendentes ou indígenas, segundo reportagem da DW.
No ano passado, em 2023, após a saída da Sarah Burton do comando criativo da Alexander McQueen, Séan McGirr foi nomeado como novo diretor criativo da marca, o que intensificou o debate sobre a falta de representatividade no meio.
Contrário ao xadrez, parece que os “reis’’ valem mais que as “rainhas.” Afinal de contas, ganha o jogo quem consegue derrubá-la.


Será que faltam mulheres competentes para esses cargos? A troca de diretores da Celine foi um bom exemplo de como esse jogo vem funcionando, favorecendo os cavalos, bispos e peões ao invés de damas e rainhas.
Hedi Slimane, que ocupava o cargo de diretor criativo da marca francesa, foi substituído por outro homem, Michael Rider. Entretanto, não faltam talentos e estilistas que poderiam ocupar este espaço trazendo diversidade e inclusão. Não é clichê dizer que representatividade importa, isso já deveria estar claro.
Dentre as sobreviventes nesse tabuleiro, temos Sarah Burton, que comandou a direção criativa da maison Alexander McQueen por 13 anos, somando 27 anos de dedicação à marca. Foi pupila e braço direito de Lee em toda sua trajetória; e este ano, assumiu a direção criativa da Givenchy.
“Acima de tudo, quero agradecer a Lee Alexander McQueen. Ele me ensinou muito e sou eternamente grata a ele,” Sarah Burton, em pronunciamento oficial.
A designer Chemena Kamali lidera a Chloé desde outubro de 2023, após Gabriela Hearst. Outros grandes nomes femininos na cena são Bianca Saunders, Simone Rocha e Phoebe Philo.


Virginie Viard, que liderava a direção da Chanel desde a morte de Karl Lagerfeld em 2019, foi duramente criticada durante seu período no cargo. Nada parecia agradar à crítica.

Ironicamente, durante sua direção, a marca apresentou aumento histórico nas vendas, por conta da demanda por bens de luxo durante a pandemia de Covid-19. A empresa relatou receitas de US$ 19,7 bilhões em 2023, um aumento de mais de 75% em relação a 2018, segundo dados da Harpers Bazaar. Agora, resta saber quem ocupará o lugar que era de Virginie Viard na Chanel.

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