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Elizabeth Sparkle(Demi moore) foi uma atriz de muito renome, com direito a um Oscar e sua própria estrela na calçada da fama. Agora, em seus 50 anos, Lizzie é uma atriz em decadência.  Após ser demitida de seu programa Fitness (uma espécie de “Jane Fonda’s Workout” bem oitentista), Elizabeth é apresentada a um tipo de droga, uma substância milagrosa que promete criar “uma versão aprimorada de você mesmo”.

O resultado disso? Uma transformação bizarra com direito a um Body Horror tão macabro que beira o Gore. Agora, Elizabeth tem que lidar com Sue (Margaret Qualley), sua versão aprimorada. Mais jovem, mais bonita e mais sexy, Sue é a definição de uma America’s Sweetheart!

Logo, a coexistência dessas duas personas de Elizabeth Sparkle causará consequências grotescas, levando as duas a extremos para alcançar a perfeição. 

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Demi Moore é aquele tipo de atriz que ninguém da tanta bola, até ter a oportunidade de atuar em um papel feroz como o de Elisabeth Sparkle, um papel que coloca todo seu talento em prova. E Moore deu o sangue aqui, talvez por se identificar até demais com a trajetória de sua personagem, já que depois do filme Striptease (1996), a atriz foi reduzida a apenas um “Sex Symbol” e sua carreira entrou em um limbo conforme foi envelhecendo – a gata se envolveu até em cirurgias plásticas mal sucedidas.

Margaret Qualley também desempenha seu papel de forma excepcional! A atriz, apesar de ter tido cada vez mais destaque em grandes produções, ainda pode ser considerada uma novata na indústria, e entrega sua performance mais notável até então.

A direção e o roteiro (vencedor do prêmio de Melhor Roteiro Original no renomado festival de Cannes) estão na mão da nova queridinha do terror francês, Coralie Fargeat, que estreou há sete anos, com o elogiado “Vingança”.

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“A substância” tece uma crítica nada sutil. Tudo aqui é escancarado, desde a maneira hipersexualizada que Fargeat filma o corpo escultural de Margaret Qualley desbravando Los Angeles rumo ao estrelato, em contraponto com os planos fechados e claustrofóbicos em que Demi Moore é apresentada definhando em seu apartamento. Todas as direções escolhidas traçam um caminho até a grande crítica do filme: como a sociedade patriarcal trata o envelhecimento feminino.

Os embates entre Elizabeth e Sue são tão bem construídos, que é difícil para o telespectador se lembrar o tempo todo que se trata de apenas uma pessoa. Lizzie e Sue são duas facetas de uma mulher que se odeia, que se sente traída pelo tempo, que sente repulsa de habitar um corpo envelhecido. 

O Body Horror, ou terror corporal, é aplicado de forma muito eficiente e funciona tão bem que é difícil não sentir um embrulho no estômago em diversas cenas. Um dos melhores exemplos desde “A mosca” (1986) de David Cronenberg.

E falando em Cronenberg, o pai do Body Horror, as referências são certeiras. Fargeat, juntamente com o diretor de fotografia Benjamim Kracun, se aproveita de muitas referências estéticas e visuais, sem perder a originalidade. As referências vão desde clássicos do cinema (Carrie, O Iluminado, Laranja mecânica) até filmes mais recentes que deixaram seu impacto estético (Requiem Para Um Sonho, The Neon Demon).

Os últimos 20 minutos do filme certamente vão dividir opiniões; Um final exagerado, nojento, visceral, e muito divertido! Coralie Fargeat leva tudo ao extremo, apresentando um retrato trágico e cômico de uma mulher que, na busca pela perfeição, acaba se tornando um monstro (literalmente)! 

A substância é uma fabula moderna e sombria, com direito até a lição de moral: “As vezes, na busca pela perfeição, se acaba perdendo aquilo que já se tinha de bom”.

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