Desde seu nascimento, o cinema sempre foi dominado por um olhar masculino. Narrativas do ponto de vista masculino eram vistas como universais, enquanto as do ponto de vista feminino eram consideradas como apenas para mulheres, o que fez com que os estúdios realizassem muito mais filmes masculinos ao longo de décadas.

Em 2023, segundo o Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego, que estudou os 100 filmes de maior bilheteria do ano, dos 2200 personagens apresentados, apenas 35% dos personagens com falas eram mulheres, o que se mostra como uma queda de 37% em relação ao ano anterior. E, ainda, os homens representam cerca de 80% dos personagens de filmes analisados. Apenas 27% contavam histórias sob a perspectiva feminina, enquanto 62% contavam com um protagonista masculino. Trata-se do menor percentual desde 2017.

Quando vamos para dentro do Set, essa diferença também se faz presente. Observando os dados da pesquisa da mesma universidade, porém no ano de 2022, as mulheres representavam apenas 22% dos cargos de diretoras, roteiristas, produtoras, editoras e cinematografistas no universo das 250 maiores bilheterias daquele ano. Tendo conhecimento desses números, é possível notar uma coisa importante: apesar dos indicativos mostrarem essa queda de representatividade, filmes considerados femininos estiveram nas cabeças das listas de maiores bilheterias do ano passado. Em especial, Barbie, da diretora e roteirista Greta Gerwig.

Barbie foi, talvez, um dos filmes com a maior capacidade de atrair uma discussão sobre o olhar e representatividade da mulher nas artes e, principalmente, na sociedade em geral. Com um poderosíssimo marketing e com o fenômeno “Barbieheimmer” como aliado, um grande debate sobre temas como patriarcado, emancipação feminina entre outros fatores foi gerado. Porém, é importante não acreditar que, por conta de fenômenos como esse, que a exceção se tornou a regra. Infelizmente, ainda há muita luta a ser travada e muito espaço a ser conquistado pelas mulheres, tanto no mundo do cinema, como no mundo real.

A seguir, uma homenagem às grandes mulheres na história do cinema:

Alice Guy-Blaché (1873-1968)

(Foto: Reprodução)

Considerada a primeira cineasta do mundo. Ela vivia em Paris na mesma época em que os irmãos Lumiére criaram o cinematógrafo, dando início ao cinema. Quando tinha 23 anos, ela produziu e realizou seu primeiro filme “La fee aux choux” (A fada do repolho), em 1896, usando câmeras Kinora Reels, a primeira geração de câmera de cinemas. Seu filme de estreia também é considerado o primeiro filme com uma narrativa ficcional da história do cinema.

Além dos irmãos Lumiére, Guy-Blaché também foi contemporânea aos cineastas George Méliès, Edwin S. Porter e DW Griffith. Todos nomes que ficaram marcados, menos o de Guy-Blache, marcando como desde o início as mulheres foram subjugadas no cinema.

Hattie McDaniel (1893-1952)

(Foto: Reprodução)

Foi uma atriz e cantora estadunidense que, em 1940, se tornou a primeira mulher preta a receber um Oscar, de melhor atriz coadjuvante por sua atuação em “E o vento levou”. Ela também foi a primeira pessoa preta a ir à premiação como convidada e não como servente. Os organizadores do evento tiveram que pedir uma autorização especial para que McDaniel pudesse comparecer ao evento, pois o edifício onde a cerimônia ocorreu não permitia a entrada de pessoas negras.

Agnés Varda (1928-2019)

(Foto: Reprodução)

Foi uma das mais importantes e influentes cineastas da Nouvelle Vague, apesar de já ter sua carreira estabelecida antes mesmo do movimento ganhar força e se estabelecer. Tem mais de 50 filmes dirigidos na carreira, que se destacam por apresentar um radicalismo na narrativa, abordando a perspectiva feminista e social.

Helena Solberg

(Foto: Reprodução)

Brasileira roteirista, diretora e produtora que é reconhecida como a única cineasta mulher que produziu, significativamente, dentro do movimento brasileiro Cinema Novo. Em seu primeiro trabalho — A Entrevista (1966) — Helena questionou a sociedade patriarcal e moralista da classe média brasileira.

Adélia Sampaio

(Foto: Reprodução)

Adélia foi a primeira mulher preta a dirigir um longa-metragem no Brasil — Amor Maldito (1984) — que retrata o confronto de uma mulher lésbica com a justiça brasileira — trazendo à tona toda a homofobia e misoginia presentes na sociedade brasileira. Além de diretora, Adélia também atuou em outras funções, como produtora, montadora, câmera, continuísta e maquiadora.

Fernanda Montenegro

(Foto: Reprodução)

Nacional e internacionalmente reconhecida como a maior atriz brasileira de todos os tempos, apresentou grandes trabalhos no cinema, teatro e televisão. Foi a primeira atriz latina e única brasileira a ser indicada a um Oscar pelo filme Central do Brasil (1998). Também foi a primeira brasileira a vencer o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz.

Kathryn Bigelow

(Foto: Reprodução)

Cineasta estadunidense que possui uma filmografia com marcantes filmes de guerra. Se tornou a primeira mulher a receber o Oscar de melhor diretor, com o filme Guerra ao Terror (2008).

Sofia Coppola

(Foto: Reprodução)

Atriz e diretora estadunidense, responsável por filmes como: O Estranho que Nós Amamos, Maria Antonieta,  Encontros e Desencontros e, no ano passado, Priscila. Ela já recebeu diversas premiações, como o Oscar e Cannes. Seus trabalhos sempre trazem um olhar instigante e transgressor.

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