“E quando a estética clean girl parecia estar em seu auge, surge novamente o velho testamento da moda para balançar o cenário fashion; Uma história que conta de Kate Moss à Tom Ford.”
Nos últimos meses um termo de nome muito curioso tem fervido na internet e principalmente no TikTok, a “messy girl” (uma nova roupagem do já conhecido indie sleaze) tem recebido fortes holofotes nas redes e causado uma estranha nostalgia.
Com o crescente interesse pelas supermodelos do final dos anos 80 e começo dos 90, a geração Z têm colocado em seus pódios de inspiração nomes como Kate Moss, Naomi Campbell e Cindy Crawford.

Sombras escuras nos olhos, música alternativa, cabelos bagunçados, sapatos e bolsas caras, sobrancelhas finíssimas e forte apreço pelo high fashion são quase que palavras-chave para começar a compreender melhor essa forte onda de volta ao grunge que precedeu a virada do século.
Enquanto Moss era fotografada pela icônica Corinne Day para campanhas da Calvin Klein, chamando a atenção para uma nova movimentação na indústria, crescia fervente um movimento subversivo nas ruas de Londres e Nova Iorque: O Grunge e o Heroin Chic. Marcado por uma estética desleixada, despojada de glamour artificial e uma atitude anti-establishment, o Grunge não apenas infiltrou-se nas passarelas, mas também na cultura popular.
Bandas como Nirvana e Pearl Jam proporcionaram a trilha sonora perfeita para uma geração desencantada, enquanto estilistas como Marc Jacobs transformaram essa estética em um fenômeno de moda. Essa era foi marcada por desafiar não só a indústria da moda e beleza como também o status quo. Foi época de olhar mais profunda e introspectivamente para toda uma sociedade

Mas afinal, essa era efêmera do início dos anos 90, que ressurgiu depois no início dos anos 10 e que volta agora no início do anos 20 tem influência de alguns nomes que nunca serão esquecidos: Marc Jacobs, John Galliano, Alexander McQueen e Tom Ford, aqueles que traduziram todas essas sensações em suas passarelas.
A re-popularização dessa trend não só reflete a forma de se vestir, como também uma visão muito mais subversiva. É rejeição ao excesso, do artificial, daquilo que é validado por ser polido, sempre em favor do autêntico e do individual (um prato cheio para quem tem aquário no mapa astrológico).
Boa parte do estilo de vida dessa época foi ditado pelas lentes da fotógrafa britânica Corinne Day.
“ As fotos de Kate eram radicais (…) Eram diferentes de tudo que poderia ser classificado como moda. Day preferia preto e branco a cores, modelos com ar vagabundo e aparência pálida de ressaca, as roupas desmoronando, muito grandes ou muito pequenas, tiradas de brechós ou do chão do quarto. Seus cenários eram ao ar livre e fuleiros, sempre com luz natural e poses esquisitas”. Passagem do livro Champagne Supernovas, de Maureen Callahan.
O livro, mostra como a moda foi um fator essencial para as revoluções culturais da última década do século. O que o rock and roll foi para os anos 50, as drogas, para os 60, os filmes, para os 70, e a arte moderna, para os 80, a moda foi para os anos 90: o estopim, e depois o filtro.
“ A moda como um fenômeno cultural significativo para os anos 10 teve a ver com uma crescente consciência popular na moda, e as crescentes trocas entre a moda e a arte” declara Valerie steele, diretora do Fashion Institute of Technology (FIT).
Definitivamente os últimos anos tem representado uma volta dos espíritos da velha guarda fashion dessa época, é quase como se abríssemos uma tabuleiro Ouija para nos comunicar com eles, e tomássemos a decisão de replicar os pensamentos e visões daquela época, sejam eles antiquados ou não.
Esse encontro massivo de contraculturas surgindo por todos os lados, o conflito entre o tradicional e o novo que desafia as estruturas, a busca pela glamourização da sua realidade e de possuir cada vez mais produtos que te diferenciam e te tornam cool, são repetitivos comportamentos que tornam difícil saber se estamos falando de 1990 ou 2024.
Realmente, é tempo de refletirmos até que ponto é vantajoso tornar à nossas antigas convicções, às figuras que idolatramos, aos velhos comportamentos. Talvez, uma ótima trilha sonora para sentir a atmosfera dessa coalizão entre essas duas épocas seja “Smells Like Teen Spirit” da banda Nirvana.
Para finalizar, mais uma passagem do livro que precede o início do primeiro capítulo: “Uma revolução aconteceu nos anos 1990, e ninguém percebeu. Esta é a história daquele tempo fugaz, ainda que fortemente influenciador — o momento em que o alternativo em moda e beleza virou mainstream, e o mainstream virou um grande negócio”. Familiar, não?

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