Como os piercings chegaram ao que são hoje, atingindo os movimentos de contraculturas e subsversão

Alexander McQueen Menswear 2016 (Foto: Divulgação)

Há décadas o uso de piercings é visto por diversas sociedades como um ato de rebeldia, mas olhando para o passado e conhecendo diversas culturas percebemos que a história é outra. As joias significam para vários povos uma forma de expressar tradições além da beleza. Na verdade, os piercings estão a muito mais tempo ligados à comunicação do que com a beleza em si. Contudo, como uma prática que surgiu a cerca de 1500 a.c. ainda se mantém tão popular? Podemos dizer que existem ondas de popularidade sobre o uso destes adornos, comecemos então por nossa viagem no tempo.

Na cultura indiana, o hinduísmo é a principal religião seguida. Seus costumes mais tradicionais se baseiam em uma rica e muito antiga coletânea de escrituras, conhecida como Vedas, que compreende quatro livros: Rigveda, Yajurveda, Samavaveda e Atharvaveda. O Yajurveda teoriza a medicina ayurvédica, que acredita no estímulo de certos pontos no corpo para promover saúde e conexão espiritual, afinal, essa crença não era exclusiva dos chineses. Aqui vemos o tão famoso piercing no nariz ser utilizado por mulheres para representar que estavam “prontas para o casamento”. Para estas, o uso da jóia traria saúde para seu marido, bem estar para si e também reduziria a dor do parto. 

(Foto: Repodução)

Para os Maias e Astecas os piercings detinham grande simbolismo cultural, tanto que eram muito utilizados durante rituais. Há aproximadamente 900 a.C. esses povos utilizavam da colocação de pedras preciosas no esmalte do dente como sinônimo de poder. Toda essa ancestralidade está ligada à herança de uma cultura, ao pertencimento de um povo. Nos dias atuais, um adorno bastante popular utilizado por inúmeros artistas me faz lembrar desses povos antigos, o grillz, que vem conquistando seu espaço na beleza mundial carregado de criatividade e exclusividade. Vale ressaltar que a origem desse adorno dental tem suas raízes fincadas no movimento negro dos anos 80, em que imigrantes africanos no Estados Unidos optavam pela substituição de dentes danificados por ouro como uma alternativa mais barata ao tratamento. 

(Foto: Kevin Mazur)

Voltando o olhar para a beleza, podemos analisar outros povos como os romanos e egípcios, que carregam a reputação de terem desenvolvido sociedades que valorizavam muito a aparência e não somente a ancestralidade e religiosidade. Esses povos também utilizavam os piercings como forma de segregação social. Para os egípcios, o adorno preso ao umbigo era de uso exclusivo do faraó demonstrando seu título hierárquico. Já para os europeus, sua contribuição na história desse ornamento foi com a adoção da prática pelos homens, que perfuravam os mamilos como um símbolo de virilidade. Essa prática teve seu primeiro auge no século XIX, décadas após os egípcios, por mulheres da nobreza européia para manter a boa aparência do busto.

Cheios de controvérsia e engenhosidade, os piercings chegaram ao seu segundo auge nos anos 60 praticamente sendo resgatados pelo movimento hippie, que os retirou do desuso. É nesse momento que os adornos passam a ser mal vistos pela sociedade estadunidense após ter seus valores contestados. Chega a ser intrigante e um pouco cômico a queda dos piercings carregados de tradicionalismo voltando como uma forma de revolta e contestação do convencional.

O movimento hippie decai e os punks assumem o papel de jovens rebeldes que perfuravam os corpos para se rebelar contra a sociedade burguesa. Na década de 70 e 80 os adornos ficam ainda maiores como forma de sátira e expressão de um sentimento de revolta. Ainda nessa época, os piercings se reinventam novamente, agora os clubbers trazem as joias como forma de sinalizar zonas erógenas do corpo, sinalizando para seus parceiros, ou quem tivesse interesse, os pontos de maior excitação em seus corpos. Um dos piercings mais polêmicos da história surge em meio a esse movimento, o frenum piercing, em que a joia perfura a glande peniana atingindo milhares de terminações nervosas proporcionando sensações novas para o portador e seus parceiros. 

Vivienne Westwood body piercing, 1970 (Foto: Divulgação)

Nos dias de hoje os piercings estão mais relacionados a beleza e estilo do que grandes movimentos sociais, após tantos anos é de se esperar que a sociedade finalmente passe a aceitar os adornos corporais e deixe de se chocar com a prática. Entretanto, analisando todos esses momentos, gosto de pensar sobre como os piercings mudaram ao longo dos séculos e continuam polêmicos, qual será a nova tendência que vai inovar as jóias? Talvez um formato ou material novo? Independente do caminho a ser seguido, aposto minhas fichas que será algo impactante do tipo que você ama ou odeia. 

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