Como o principal mercado de consumo feminino é comandado majoritariamente por homens

De tempos em tempos acontece a “dança das cadeiras” no mundo da moda, onde um diretor criativo abre espaço para um novo em marcas de luxo por todo o globo. O momento esperado por muitos — desde fãs e apreciadores até os próprios indicados — tem gerado grandes debates nas mídias sociais ao redor de uma pergunta que não quer calar: por que tão poucas mulheres estão à frente de marcas de luxo?

A discussão sempre foi uma pauta, mas foi reacesa quando a cadeira da direção criativa das marcas Alexander MacQueen e Moschino foram ocupadas por — nada de novo no front — homens. Mesmo o grande consumo desse mercado sendo majoritariamente feminino, parece que ser homem branco é o pré-requisito para ocupar tal cargo.

Em 2023, boa parte das grandes marcas do mercado de luxo foram comandadas por homens. Nomes de peso como Yves Saint Laurent, Valentino Garavani e Oscar de la Renta somam às 33 marcas citadas na pesquisa da Financial Times sobre marcas comandadas pelo gênero masculino. A querida de muitos, Burberry, nunca teve uma mulher ocupando a cadeira. Nesse ano, seguimos com Sabato de Sarno na Gucci, Matteo Tamburini na Tod’s, Seán McGirr na Alexander MacQueen e Alessandro Vigilante na Rochas.

Ainda há salvação! Atualmente, apenas algumas marcas se destacam por ter uma mulher à frente da direção criativa: Chanel com Virginie Viard, Prada com a herdeira Miuccia Prada — acompanhada de Raf Simons e Chlóe com Chemera Kamali herdando a cobiçada cadeira de Gabriela Hearst. Contudo, é um número praticamente inexpressivo dentro do mercado.

(Foto: Reprodução/FFW)

Apesar de poucas mulheres à frente no mundo da moda, não podemos dizer que elas passam despercebidas. Grandes ícones e peças clássicas nasceram das mãos de mulheres, como Coco Chanel que popularizou o uso do vestido preto e incentivou o uso de calça entre as mulheres, ideias essas que iam totalmente contra os padrões da época. Mary Quant, que criou a minissaia e a hot pant e revolucionou a moda na década de 60. Trazendo para os dias atuais, a própria Miuccia Prada que fundou a queridinha Miu Miu em 1993, além de ser produtora de filmes e doutora em ciências políticas.

Entretanto, a falta de espaço vai muito além da diversidade de gênero, pois há também uma falta de diversidade de raça. No presente, Pharrell Williams segue chefiando a área criativa da Louis Vuitton Men, mas são raros os casos de negros desenvolvendo a parte criativa. As marcas parecem ter medo de abrir lugar para o novo, por isso boa parte dos “herdeiros” da posição geralmente possuem designs similares ou relativamente na mesma linha que o anterior. Mesmo diante do talento — que não há nem como ser negado — dos diretores, ainda sim eles ocupam espaços que poderiam ser ofertados a novas perspectivas, diversidades e realidades.

Chemena Kamali, diretora criativa da grife francesa Chloé (Foto: Divulgação)

Para muito além de um problema superficial, a sequência de homens brancos ditando as trends e o que “deve ou não deve ser usado” apenas mostra o que sempre esteve debaixo dos nossos narizes: os homens sempre controlaram — e querem controlar — os corpos femininos. A moda é apenas uma das ferramentas para isso e a mudança nesse cenário parece estar em um futuro distante. E não adianta, marcas de luxo estão muito além de cancelamentos na internet, afinal o grande consumo não vem da massa e sim de poucos que possuem capital em mãos. Portanto, cabe a nós, meros mortais e entusiastas, dar visibilidade ao trabalho de mulheres que são constantemente ignoradas, ainda que não sendo “mercado de luxo” e, apesar de não ter um efeito tão imediato, continuar protestando. Quem sabe, num trabalho de formiguinha, consigamos mudar essa realidade daqui alguns anos. Torçamos para isso.

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