“Como a plasticidade do meio fashion tem se tornado cada vez mais artificial e menos autêntica”
Órfãos de uma era de ouro de diretores criativos como John Galliano, Tom Ford, Marc Jacobs e, claro, Alexander McQueen, aqueles que são aficcionados pelo mundo fashion têm percebido cada vez mais uma movimentação atípica na indústria nas últimas décadas.
Após uma era de grandes nomes criativos no controle de marcas, o meio corporativo dos grandes conglomerados de luxo aos poucos têm dado cada vez menos ênfase aos seus diretores criativos e colocado cada vez mais suas marcas (personificadas) como pontos centrais de seus negócios, quase que como se suas logos assumissem uma personalidade por si próprias.

A grande questão, é que na perda de grandes nomes por trás de grandes marcas, se perde cada vez mais a personalidade e excentricidade dos artistas que antes formavam um panteão de seres quase intocáveis, endeusados por seus fiéis.
Não só nos anos 2000, a moda desde os anos 80 já fazia esse movimento de trazer nomes que carregam legados, cita-se por exemplo nomes icônicos como: Halston, Gianni Versace, Valentino, Rei Kawakubo, Cristóbal Balenciaga e tantos outros.
Quando falamos de Alexander McQueen, por exemplo, estamos falando sobre desfiles que ultrapassam qualquer experiência vista antes. Looks que chocam o senso comum e nos fazem refletir sobre como enxergamos aquilo que vestimos marcam sua trajetória feita por grandes marcos na indústria.
Lee (como Alexander preferia ser chamado) sempre teve sua história marcada pela sua excentricidade. De origem humilde, o estilista começou sua carreira como alfaiate, chegando ao ambiente acadêmico somente anos depois. Se formou na Central Saint Martins, em Londres, onde chegou ao escritório da diretora da faculdade com roupas surradas e muita atitude, coisa que garantiu seu lugar na mais prestigiada escola de moda do mundo.

Em seu desfile de estreia, Lee, diferentemente dos outros graduandos, chega com uma passarela que remonta a história de “Jack, o estripador”. Alfaiataria de extrema sofisticação, cores que passeiam entre o preto e o vermelho, e, surpreendentemente, pedaços de seu cabelo, costurados nas roupas e encapsulados em tecidos (Referência às prostitutas da era vitoriana que vendiam pedaços de seus cabelos). Um fato sobre as obras de Alexander, é que elas sempre foram muito autobiográficas, trazendo em suas obras memórias de família, traumas e sentimentos.


(Foto: Metropolitan Museum)

(Foto: Reprodução)
Ao longo do tempo, sua teatralidade marcou uma era, para alguns (até mesmo para mim), foi o estilista mais marcante dos anos 2000.
Sua marca foram coleções de impacto que passeiam entre a beleza no estranho e a repulsa, o próprio sempre dizia “I find beauty in the grotesque” (Eu encontro beleza no grotesco).
Já nos últimos anos, a moda volta cada vez mais a se prender a uma lógica exclusivamente comercial, tendo um vago suspiro artístico nas semanas de haute couture.
Alguns dizem ser “AVAVAV” (grife italiana que tem viralizado no tiktok por seus desfiles onde modelos caem propositalmente e roupas e cenários se rasgam) a sucessora desses estilistas icônicos em desfiles.
Mas fica a questão: em uma passarela estreita, feita para caber na gravação vertical para redes sociais, onde os modelos fazem tantas excentricidades que sequer tem alguma relação de sentido com aquilo que vestem ou com o conceito artístico da coleção, será mesmo tudo isso a personalidade transgressora de um criador, ou somente um produto polêmico para gerar cliques vazios nas redes?

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